A lógica das conveniências

|Hélio Bernardo Lopes|
Só à custa de uma extrema ingenuidade se pode imaginar que a condução política da vida dos Estados se rege por regras de verdade e de honestidade desinteressada. 

Invariavelmente, e em todos os tempos da História do Homem, a manobra política em torno da realidade das coisas foi a regra seguida por quem quer que tenha desempenhado cargos políticos.

Pois, foi exatamente isto que se pôde ver num dia destes, em mais uma votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas, ao redor da tal proposta de criação de um tribunal destinado a tratar o caso do avião malaio derrubado no leste da Ucrânia. Com toda a lógica, a Rússia vetou a criação de um tal tribunal, que só teria esse nome por uma questão estritamente formal e semântica.

Mas basta que nos recordemos das violações da lei internacional por parte de Israel, já lá vão muitas décadas, para de imediato nos darmos conta de que o Conselho de Segurança, por via das suas resoluções, vale o que vale. Os mesmos que agora propuseram este tribunal mais recente, nunca propuseram um outro para tratar, à luz da lei internacional, o caso de Israel e do Estado da Palestina. Não propuseram e nunca tal aceitarão.

Mas nós podemos citar uma outra imensidão de casos do género. Desde logo, o caso dos crimes perpetrados pelos Estados Unidos ao redor dos voos da CIA e dos Estados que com eles colaboraram. Alguém propôs no Conselho de Segurança um qualquer tribunal destinado a tratar tal violação maciça de Direitos Humanos? Claro que não!

E que dizer dos milhares de crimes praticados durante a Guerra do Vietname, incluindo o início da própria guerra? Teve lugar um qualquer tribunal internacional destinado a tratar tais crimes quase sem limite? Obviamente que não! E tudo quanto se prendeu com a monumental mentira das armas de destruição maciça do Iraque e que, afinal, nunca existiram? Qual tribunal, qual quê!

Por um acaso o chefe da secreta peruana, ao tempo da ditadura-democrática de Alberto Fujimori, era um idiota. Era um criminoso, o que é natural, mas era, acima de tudo, um imbecil idiota. Não fora tal, e ainda hoje se continuaria a tratar Fujimori como um valente defensor da liberdade e um combatente do terrorismo. Pois, a CIA, a NSA e o Conselho de Segurança das Nações Unidas nada sabiam. Pelo contrário, só souberam quando surgiu o vídeo do idiota imbecil que dirigia a secreta de Fujimori...

O mesmo se vem dando na Colômbia, onde as FARC e o Governo vão violando os Direitos Humanos quase sem limite, mas sempre sem que o Conselho de Segurança tome uma infinitésima posição sobre os mil e um crimes praticados por todos os que se distribuem naquele terreno sul-americano.

Por fim, os milhares de casos passados em estruturas da Igreja Católica, e até de outras estruturas religiosas, um pouco por todo o mundo, obviamente com conhecimento das hierarquias em causa, mas sem que ninguém se tenha determinado a levar o caso ao Tribunal Penal Internacional ou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, pedindo que este órgão criasse um tribunal destinado a julgar os responsáveis pela imensidão já conhecida – e reconhecida – de crimes contra mil e um, crianças ou adultos, pessoas normais ou deficiente ou mesmo gente paupérrima.

Por tudo isto, parece-me evidente e lógica a tomada de posição da Rússia, dado que um tal tribunal seria sempre um tribunal ao serviço dos Estados ocidentais. A sua sentença final estaria desde sempre anunciada.

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