Um jornalismo inútil

|Hélio Bernardo Lopes|
Por um acaso, tive ontem a oportunidade de acompanhar a entrevista de Jerónimo de Sousa à SIC, na pessoa de Clara de Sousa e durante o noticiário da hora do jantar. 

Foi, de facto, um acaso, dado que estava previsto um jantar fora de casa, que foi adiado por razões de saúde de uma amiga – uma crise de vesícula. Em todo o caso, sempre acabaria por visionar a entrevista do líder comunista, embora só no dia de hoje.

Foi uma entrevista interessante, repleta de razão na generalidade dos argumentos apresentados, e que só merece este texto – digamos assim – por via da última pergunta da entrevistadora a Jerónimo de Sousa: acha que o comunismo continua a ter razão para ser defendido, depois do que se viu com o muro de Berlim e quando os regimes marxistas-leninistas de hoje são apenas os do Vietname, do Laos e da Coreia do Norte?

Claro que Jerónimo de Sousa respondeu positivamente, o que é lógico, à luz dos valores em que acredita e em que sempre terá acreditado. Mas o que é aqui deslocado e estranho é a pergunta, porque desde que que o comunismo terminou, com o fim da antiga União Soviética, o que sobreveio, no Ocidente e por quase toda a parte, foi uma sociedade sem moral, sem ética e sem uma réstia de valores. O que diariamente se vai vendo é o alastramento da guerra, o desfazer de Estados, a destruição de património mundial, o regresso do racismo, o alastramento da corrupção e do crime organizado ao nível planetário, a corrida armamentista, o crescimento da pobreza e da incerteza, a perceção de que se aproxima o Dia G, etc.. Ou seja, a tal guerra mundial aos pedaços, tão bastas vezes já referida pelo Papa Francisco.

De resto, há perto de um ano, o próprio John Kerry até conseguiu deixar sair o seu sentimento íntimo, a cuja luz se vivia com mais previsibilidade no tempo da Guerra Fria. Um reconhecimento que me levou, então, a escrever um texto sobre tal revelação. Longe de se criarem os fundamentos para uma paz duradora e um desenvolvimento harmonioso da Terra – João Paulo II falou disto mesmo a cientistas, logo ao início deste século –, o que acabou por ter lugar foi o galgamento de todo o mundo pela grande estratégia dos Estados Unidos. A própria União Europeia é o que se conhece, quando já se percebeu que nada de útil realmente significa para a generalidade dos europeus.

E cá estaremos para poder observar o que irá ser o futuro de Cuba, sendo certo que, a par de uma minoria de milionários, o que sobrevirá, de um modo generalizado, será a perda de património, o regresso da pobreza e da miséria moral à generalidade dos cubanos, já então entregues às garras de quem, em troca da mais ampla liberdade, também impõe a mais vasta pobreza. Infelizmente, a generalidade das pessoas não consegue perceber que não é possível criar muito para todos.

Alguém escreveu, há uma meia dúzia de dias, que a Noruega é um país com muito poucos pobres e muito poucos ricos. Sendo uma realidade, a verdade é que as pessoas vivem ali com a garantia do essencial a uma vida digna, situação que não temos entre nós. Pelo contrário, o que por aqui se desenvolve é a ideia de que o juiz Carlos Alexandre é que exorbitará, para mais sobre gente sem um infinitésimo de mácula. É a coragem de compreender e denunciar estas realidades que falta aos nossos jornalistas. Foi pena que Jerónimo de Sousa não tivesse lembrado Clara do que disse Francisco: esta economia mata. E não se referia à comunista…

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN