As férias da rapaziada

|Hélio Bernardo Lopes|
Neste passado domingo fui encontrar uma notícia ao redor da ocupação do tempo de férias – as de verão – pelos jovens que vão dispondo desse tempo livre. De um modo geral, concordei com as posições ali referidas como sendo as da generalidade dos conhecedores do comportamento da nossa rapaziada.

Acontece que tenho dois netos, um rapaz, com treze anos, agora transitado para o oitavo ano, e uma menina, com sete anitos, que vai entrar no seu terceiro ano. Em conjunto, são bem piores que a histórica Guerra Fria, embora tudo acabe sempre por terminar em bem, malgrado uma dose farta de enervação da Avó, ou as ordens ameaçadores do Vovô Hélio.

No nosso caso, ainda com os pais sem terem entrado nas suas férias, sobram os avós paternos. Nestas circunstâncias, o meu neto – o Pequenino – convive essencialmente comigo, com a Pequenina quase sempre ao redor da Vovó. Separados, tudo parece viver na Paz do Senhor, embora com uma alegria ampla. Claro está que tudo está bem se o interesse destes jovens for grande pelo conhecimento. Se não for assim, há que adotar uma estratégia que, não recusando o gosto por certas brincadeiras muito deles, lhes permita não perder cerca de três meses sem nada fazer que deixe algum conhecimento útil, qualquer que seja a sua natureza.

No caso do meu neto, que é com quem imensamente mais convivo, passei a jogar com ele uma sessão de pontapés à baliza, eu como guarda-redes, ele como rematador: uma vez pelo quarto para o meio-dia, outra pelas cinco da tarde, qualquer delas com um máximo de meia hora, e sempre num parque destinado a este tipo de atividades que fica a cem metros de sua casa.

Logo após o almoço, sempre em nossa casa, segue-se, já na dele, o visionamento dos noticiários televisivos da hora do almoço, dado que tais programas são absolutamente essenciais para se poder acompanhar o que vai pelo mundo e, por aí, adquirir cultura geral. E vai-se mostrando de grande importância, porque surgem perguntas frequentes ao redor de certos temas, mas só respondidas no final.

Acontece que aos fins-de-semana, em face das atuais condições meteorológicas, todos lá em casa vão à praia. Estabeleci, então, com o meu neto, que, até ao jantar de segunda-feira, terei de ter dele recebido uma carta onde me exponha o que foi esse seu dia de passeata, incluindo tudo o que o possa ter condicionado ou dele tenha decorrido.

Ao mesmo tempo, de dois em dois dias, envio-lhe uma carta minha – podia ser dele –, supostamente enviada ao Papa, ao Presidente da República, à Presidente da Assembleia da República, a amigos e familiares, de molde a que adquira conhecimento sobre como proceder em tais circunstâncias. E envio-lhe, por igual, alguns dos meus textos destinados à comunicação social. De um modo ou de outro, acabamos por discutir o tema da carta, ou do artigo, e o modo da sua elaboração. Também costumo enviar intervenções do Presidente Cavaco Silva, de molde a que domine aspetos protocolares.

Todos os dias, em geral à tarde, jogamos um jogo de Batalha Naval. E uma vez por semana damos um passeio longo a pé, ao redor de um local aonde chegamos através de transportes públicos. Já hoje conhece Campo de Ourique, Calçada da Estrela, S. Bento, Calçada do Combro, Camões, Chiado, Bairro Alto e Baixa. E também a zona envolvente do Campo Pequeno.

Também semanalmente, vemos os dois um filme com interesse, da coleção vasta dos País. Já teve a oportunidade de visionar filmes diversos sobre a Segunda Guerra Mundial. E, por fim, lá vamos falando em português, em inglês, em francês e em espanhol. Uma língua em cada dia. Mas, por via das cratísticas decisões, ando agora a tentar dominar o mandarim – comecei a trabalhar no russo, mas tive que substituí-lo pelo mandarim –, que espero podermos começar a trautear ao início do nono ano.

Ora, tudo isto acaba por conseguir-se sem que ele deixe de jogar os seus jogos de telemóvel – um verdadeiro opiáceo –, bem como os da consola(?). Chego a ter que isolá-lo, porque o nosso Amigo descompõe os jogadores e as próprias mães! Às vezes, tenho de usar o meu método policial e ameaçador. Um dado é certo: ao início do oitavo ano, ele conhecerá já uma multidão de informação que não possuía. É, segundo penso, uma boa maneira de passar umas férias que são longas e muito aprazíveis.

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