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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Em primeiro lugar, o próprio referendo. Sendo a República da Irlanda um país de grandes tradições católicas e tendo em conta a posição oficial da Igreja sobre o tema em causa, lançar mão de um referendo sobre este tema podia logo permitir duas leituras: um corte forte entre o Governo da Irlanda na sua dependência face à Igreja Católica, e o facto da população apoiar, sem hesitações, a ideia do referendo sobre um tal tema.
Em segundo lugar, os escândalos surgidos na Irlanda. Constituiu uma imensidão o número de casos de vítimas de pedofilia e de outros abusos, mas também de gente da Igreja e de colégios seus, onde tais abusos se desenrolaram por décadas, para mais sobre crianças extremamente pobres, e mesmo doentes do foro psíquico. Um horror e uma vergonha para a Igreja Católica e para os católicos que sejam gente sã.
E, em terceiro lugar, pelo desprestígio que, pelos mil e um escândalos entretanto conhecidos, atingiu a Igreja Católica. Se olharmos com atenção e sem facciosismos, a verdade é que nem o Papa Francisco, com as suas brincadeiras e com uma comunicação social muito bem trabalhada, poderá apagar a muito má imagem que atingiu a Igreja Católica. Basta que pensemos neste cenário: existirão pais, com um mínimo de cultura, que hoje depositam os seus filhos pequenotes à guarda de grupos religiosos, mormente católicos, e mesmo que só em tempo de férias? Muito sinceramente, custa-me acreditar.
Por tudo isto, e sem que os irlandeses tenham deixado as suas referências católicas, a verdade foi a que se pôde ver nos resultados surgidos: uma tareia eleitoral. O próprio Arcebispo de Dublin acabou por reconhecer esta evidência: o sim dos eleitores irlandeses ao casamento homossexual é um exemplo da revolução social que o país atravessa há algum tempo e à qual a Igreja Católica deve reagir. Bom, a verdade, para já, é que a reação foi mais do mesmo. Não tem emenda, a hierarquia da Igreja Católica.