|Hélio Bernardo Lopes| |
Portanto, quando o Presidente dos Estados Unidos diz que os norte-americanos não estão curados do racismo, impõe-se responder a esta pergunta: perante uma tal realidade, que fazer?
Trata-se de um tema extremamente real e a que se impõe dar uma resposta rapidamente adequada, tendo em conta o comportamento racista da polícia, que é objetivamente estrutural, mas também o facto deste recente jovem criminoso pretender operar uma guerra racista nos Estados Unidos. Indubitavelmente, esta atitude, para lá de não poder ser tomada como um acontecimento singular, traduz uma linha cultural para que a sociedade norte-americana se não tem sabido acautelar.
Acontece que, neste domínio e à luz do que tenho podido ver, existirão dois fatores que poderão estar a estimular o regresso do racismo nos Estados Unidos: um, de natureza geral, ligado ao tempo que passa, com os valores que criou, e que produziu uma comunidade ao nível mundial onde os africanos acabaram por não se modernizar e autonomizar; e outro, ao nível da sociedade norte-americana, como reação ao facto de ter sido eleito, como presidente, um afro-americano.
Este segundo fator parece-me por demais evidente, até por ter sido Barack Obama o portador de um conjunto vasto de bandeiras que, sendo extremamente humanistas e naturais, iam completamente ao arrepio dos membros que comandam a classe branca dominadora nos Estados Unidos, mas, de um modo muito geral, à própria comunidade branca em si mesma.
Já o segundo fator envolve alguma responsabilidade para a própria conduta política dos Estados Unidos, que vêm ajudando, de um modo fortemente empenhado, à criação de focos de tensão um pouco por todo o lado. Depois de ter já escrito sobre o avião malaio desaparecido, e do que Kiev derrubou, passando agora pela militarização crescente da envolvente da Rússia, acabando mesmo por chegar ao politiquíssimo caso FIFA, a verdade é que o que tudo isto tem criado é uma perda de prestígio de Barack Obama e dos próprios Estados Unidos no mundo. A recente decisão chinesa de preparar toda a sua frota marítima para uma adaptação rápida a funções militares, é bem a prova de que existe por parte do Governo Chinês a perceção de que o seu homólogo norte-americano pretende, por outros meios, continuar a ser o senhor único do Planeta.
De um modo concomitante, está a surgir por todo o lado uma perda acentuada do valor da vida, dos Direitos Humanos e do próprio Estado de Direito Democrático. Tudo o que parecia ser passado parece regressar em simultâneo, o que mostra a perda completa de eficácia na grande estratégia dos Estados Unidos, que porfiam em pretender subjugar aos seus interesses as grandes riquezas do mundo. Hoje, os povos tomaram a consciência de que a democracia, tal como foi conhecida, é um amontoado de escombros, reduzidos à mera repetição de um suposto ideal.
Superar o racismo pressupõe uma educação de base, mas também impor aos adultos uma espécie de cursos de desracismização, tal como se fez com os alemães no final da guerra, com a desnazificação. E, note-se, a situação norte-americana não é para menos. E também se requer uma intervenção forte e estruturante das estruturas religiosas, procurando no seu seio realizar aquelas tarefas e vivê-las ao nível multirracial. É preciso andar depressa nesta questão...