|Hélio Bernardo Lopes| |
Este nosso desastre social tem causas fortes internas e externas. Destas, relevam-se as derivadas do fim do comunismo internacional, que veio possibilitar a implantação do modelo neoliberal e a globalização. E, como teria de dar-se, tudo isto necessitava, como ingrediente essencial, da dita democracia, hoje reduzida a um inútil ritual periódico. E não virá longe o dia em que surgirá a moda de legislaturas de seis ou sete anos. Quem hoje realmente manda no mundo e na vida dos Estados necessita de democracias como a boca do pão, mas reduzidas a um mínimo, mormente os efeitos alternativos.
Simplesmente, esta evolução internacional só foi possível porque os partidos da antiga Internacional Socialista acabaram por vender a alma ao Diabo, passando-se de armas e bagagens para o lado político triunfante: os seus grandes aliados foram sempre os partidos ligados à tradição e controlo dos grandes interesses.
Internamente, porém, o movimento teria de ser similar, como cada um de nós pôde ver ao longo destas quatro décadas depois de Abril. Pois se é verdade que a atual Maioria-Governo-Presidente acabou por reduzir o Estado Social ao quase-nada que se conhece, também o é que se sabia que essa seria a realidade, sem que tal impedisse o apoio público intenso de Mário Soares a Pedro Passos Coelho: era muito simpático e alguém com quem se podia dialogar... Aliás, é bom recordar que o campeão da defesa da economia de mercado foi, em Portugal, Mário Soares, em tempos que já lá vão.
Depois, operou-se a aquisição dos grandes meios de comunicação social pelos grandes interesses, o que acabou por determinar que a direita passou a dispor de diversas vozes diárias de propaganda à sua ação e de crítica feroz à dos partidos da oposição, mormente o PS. E o mesmo teve lugar ao nível dos comentadores. Sobre a realidade do País, fruto da política destes quatro anos, pouco ou nada a grande comunicação social nos trouxe o que quer que fosse.
Por fim, a posição dos partidos de esquerda, sobretudo PCP e Bloco de Esquerda. Também de armas e bagagens, não hesitaram um segundo em votar contra o PEC IV, aliando-se à direita e ajudando, desse modo, à chegada da desta ao poder. Como se sabia que teria de dar-se, o resultado foi, mais que tudo, a destruição do Estado Social, a par de um empobrecimento estratégico e intenso da generalidade dos portugueses.
Acontece que as eleições estão à vista, de molde que se justifica a pergunta: vai o PCP voltar a aliar-se à direita, fazendo do PS, ao dia-a-dia, o seu bombo de festa, como está já a ver-se? Porque se é verdade que o PS foi sempre um aliado dos grandes interesses desde o seu surgimento, não o é menos que, se tivesse continuado com o PEC IV, as coisas não poderiam nunca ter seguido o desgraçado caminho que se vem vendo. Seria da mesma natureza, mas com uma cadência muito menor e mais humanista.
Termino, pois, com a manifestação da minha dúvida anterior: vai o PCP voltar a aliar-se à direita, fazendo do PS, ao dia-a-dia, o seu bombo de festa, como está já a ver-se? Estaremos cá para ajuizar.