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|Hélio Bernardo Lopes| |
Não li a carta, como, aliás, venho fazendo ao redor da generalidade da informação sobre este caso, cingindo-me ao que a grande comunicação social vai dando a conhecer. E, mesmo assim, só se me trouxerem o tema já bem trabalhado, que foi o que fez a SIC.
Depois, deito-me a pensar sobre quanto me foi dado ouvir, acabando, por vezes, por escrever algo sobre o tema.
Desta vez, porém, fiquei perplexo, porque José Sócrates acaba por nos dizer que admite poder vir a ser condenado, embora, segundo ele, sem factos nem provas. Ora, ele não foi ainda acusado, nem pronunciado, nem julgado. Está em dificuldades? Claro! Mas o que também é verdade é que se está muito longe do desfecho final deste caso.
Acontece que nós ainda podemos admitir alguma elasticidade apreciativa ao nível das autoridades policiais e do Ministério Público, mas já é difícil imaginar essa mesma elasticidade – e a um nível similar – no âmbito da apreciação deste caso num julgamento. E num julgamento que, naturalmente, percorrerá todas as fases possíveis de recurso.
Simplesmente, José Sócrates colocou-se aqui numa situação difícil, mormente ao nível do cidadão comum. E porquê? Bom, porque nos veio dizer que admite ser condenado, embora pelas razões que expôs. E também porque o cidadão corrente o que terá pensado – e terá mesmo pensado o que quer que seja? – é que, percebendo já que deverá vir a ser condenado, joga no modelo explicativo que agora se lhe pôde ouvir. No futuro, lá estaria sempre esta sua explicação, atempadamente exposta.
Acontece, também, que ninguém sabe se José Sócrates vai ser julgado. E muito menos se vai ser condenado. Se houver julgamento, atravessando as diversas instâncias de recurso, ninguém sabe agora que o irá julgar. E muito menos o que irá decidir, no final de cada instância, quem o vier a julgar. O que significa que esta sua posição, desde que vinda a público, acaba por induzir em quem a escuta a ideia de que ele já palpitará que vai ser condenado, embora à luz do seu modelo explicativo. Bom, eu tenho sobre esta carta, desde que se tornou conhecida, uma opinião: ela constitui o pior elemento que Sócrates poderia ter produzido em sua defesa. Objetivamente, quase não dá para acreditar!