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| |Hélio Bernardo Lopes| |
O recente caso – o mais recente, de uma longa sucessão – da tragédia dos refugiados no Mediterrâneo, a caminho do espaço europeu, na desesperada tentativa de salvar a vida, trouxe à superfície a fantástica hipocrisia que hoje marca a atitude dos políticos europeus e, de um modo geral, de quase todos os políticos ocidentais.
De imediato se marcou uma reunião ao mais alto nível, com o apregoado objetivo de que não mais uma tal realidade volte a ter lugar. Simplesmente, de pronto se percebeu que as medidas adotadas se destinam a evitar a mortandade que vem tendo lugar naquele mar, ainda que possa continuar lá pelos horrorosos lugares de onde as vítimas procuram fugir para, precisamente, tentarem salvar a vida.
Uns poucos dias adiante, e eis que nos chega, por via oficial, o que de há muito se conhece: metade da população rural do mundo não tem acesso a cuidados de saúde. Um terrível indicador, porque o real valor é muitíssimo maior, desde que se tenham em conta aqueles que, vivendo nas zonas urbanas, pouco mais e melhor possuem em face dos das zonas rurais.
Ao mesmo tempo e periodicamente vão surgindo calamidades naturais, permitindo observar, com alguma estupefação, o modo fortemente desconexo, e sem um rumo capaz, como a Comunidade Internacional acaba por enfrentar as referidas calamidades. De facto, para lá do socorro imediato – e é essencial –, nada de estruturante é realmente aplicado a tais sociedades, olhando o futuro.
Aqui bem próximo, o norte africano. O início de um continente marcado pela exploração maciça das riquezas naturais de toda a espécie, pela doença, pela guerra e pela quase total ausência das estruturas essenciais ao desenvolvimento harmonioso – que terá de ser diferente do resto do Ocidente – que a vida do Planeta e de cada um dos que por ali vivem realmente exige. Uma autêntica vergonha para os países do Primeiro Mundo e das instituições internacionais.
Por fim, o nosso Portugal, hoje um país pobre como desde há décadas se desconhecia. Um país com quase nove séculos de existência, mas onde a perda de soberania tem sido avultada e nunca realmente sufragada pelos portugueses. Um Portugal que, se olhado o tempo que passa com atenção, poderá não conseguir encontrar um futuro capaz para os portugueses que acabarem por aqui ficar ou sobreviver.
Acabou o comunismo – é verdade –, mas nunca se viveu com tanta ansiedade, apreensão e desnorte. Uma ínfima minoria, em crescendo, domina e explora, usando a metodologia (dita) democrática, a esmagadora maioria dos portugueses, hoje a passarem terríveis agruras que irão continuar.
