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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Tal como pude já escrever há perto de uns dois anos, na sequência de um pedido expresso, não creio que tenha valido a pena a Revolução de 25 de Abril, e por esta razão simples: se não tivesse tido lugar, estaríamos hoje numa situação em tudo similar à atual, porventura com mui ligeiras cambiantes. Objetivamente, à medida que passam os anos, os efeitos daquele acontecimento histórico vão-se esbatendo. Infelizmente, existem hoje situações que se nos apresentam como verdadeiras desilusões. É delas que aqui escreverei um pouco.
Em primeiro lugar, a omnipresença da corrupção por quase todo o tecido social português. Uma verdadeira máquina de crime organizado, que se vem desenvolvendo à luz da tal rede muito oportunamente explicitada pela Procuradora-Geral da República.
Em segundo lugar, o horroroso máximo atual de quase três milhões de portugueses a viver num ambiente de pobreza. Uma dolorosa realidade, certamente bem maior, a que há que juntar que, destes, cerca de seiscentos e oitenta mil são crianças ou jovens. Um verdadeiro horror.
Em terceiro lugar, a maciça emigração, que já ultrapassou os trezentos mil portugueses. Uma onda que se pensava ser apenas uma marca da passada década de sessenta do século anterior. Afinal, uma marca que regressou e que, como tudo faz crer, veio para ficar. Porventura, ainda para continuar a crescer.
Em quarto lugar, a fantástica dificuldade dos portugueses acederem à justiça, seja pela distância às suas estruturas, seja pelos incomportáveis custos da mesma.
Em quinto lugar a idêntica situação, mas em relação aos serviços de saúde. Depois de, em boa hora, se ter criado o Serviço Nacional de Saúde universal e gratuito, o mesmo caminha hoje para o colapso final.
Em sexto lugar, as dificuldades crescentes no acesso à educação. Uma realidade que deverá vir a crescer muito rapidamente nos próximos anos, sobretudo se a política da atual Maioria-Governo-Presidente se mantiver.
Em sétimo lugar, a inimaginável destruição paulatina da estrutura de reformas, mesmo dos que se viram obrigados a descontar à luz do regime contributivo. Realidades em grande medida aplicadas por concidadãos que, naquele tempo distante de Abril, se diziam profundamente de esquerda... Em oitavo lugar, o histórico caso dos mortos em acidentes de viação. Uma situação que levou mesmo, em tempos, a piadas sobre Américo Tomás – com Th e z no fim, claro –, ao redor daquele valor. Pois, nos dias que passam, eis que nos acaba de chegar esta fantástica notícia: com três suicídios em média diária, o respetivo número já ultrapassa o de mortos nas estradas...
Em nono lugar, a recente reflexão de Silva Peneda: há uma grande desproporção entre sacrifícios e resultados. Uma realidade que me traz ao pensamento uma frase que se incluía num dos comunicados do MFA, na madrugada de Abril: aos portugueses eram exigidos deveres sem a correspondente contrapartida em direitos.
Em décimo lugar, a venda da riqueza de Portugal a pataco. Para já não referir a cabalíssima perda de soberania, com a correspondente subordinação à estratégia das principais potências mundiais, mormente a Alemanha.
E, por fim, a recente tentativa de recriar o mecanismo do Aviso Prévio nos grandes meios de comunicação social, em ordem a impedir a possibilidade de que possam vir a surgir coisas inesperadas que acabem por pôr em causa os grandes interesses dos políticos hoje instalados à sobra das estruturas da soberania.
A verdade é que, mesmo depois de todo este vendaval, a liberdade continua como a sardinha: está vivinha da costa. Simplesmente, para lá de evitar os desmandos das autoridades da II República, não tem efeitos práticos. A população, de útil, nada pode decidir.
