![]() |
|Hélio Bernardo Lopes| |
Um pecado desde há décadas praticado pelos antigos Estados colonizadores e por aqueles que, não o tendo sido, se viraram, após o fim do comunismo soviético, para um modelo de exploração neocolonial, sempre em nome de impossíveis democracias e deitando mão, acima de tudo, da corrupção dos dirigentes desses novos Estados, saídos do ambiente colonial.
Claro que esta sucessão de tragédias, que deve estar para durar longamente, tem, malgrado a desgraça humanitária que transporta, o condão de nos mostrar como é fácil aos fraquíssimos líderes políticos do mundo desenvolvido atual botar faladura e mostrar o seu horror e a garantia de que tudo isto não irá continuar. É quase certo que tudo não passará de palavras, porque a atual tragédia – sucessão de tragédias...– só difere da parte anterior da sucessão ao nível da sua dimensão. De há muito se podia ter percebido ser esta a realidade.
Como já facilmente se percebeu, o fim do tempo comunista conduziu ao triunfo neoliberal, marcado pela cabalíssima ausência de valores centrados na vida e na sua dimensão transcendente. E também já é possível darmo-nos conta de que a democracia, tal como pode realmente ter valor, está hoje condenada a ser uma palavra vã, acompanhada de um ritual periódico e completamente inútil. E como os portugueses e os espanhóis, os gregos e outros, se deram já conta desta realidade...
O horror que vem tendo lugar no Mediterrâneo é a consequência, por igual, da lamentável intervenção do Ocidente no ambiente africano, mas também em todo o arco do Médio Oriente. Deitou-se aquele a pôr em causa o que só podia funcionar como se conhecia, sempre em nome da dita democracia, assim conduzindo à destruição de vastos espaços que, com limitações, funcionavam bem. Funcionavam como era possível e num estádio que resultava do respetivo percurso histórico. O resultante é a que se pode agora ver e que se percebe ir continuar.
No entretanto, surgem a violência e a xenofobia na África do Sul e continuam estas caraterísticas a desenvolver-se no centro de África e na sua parte ocidental. E tudo isto com sinais perturbadores de instabilidade no subcontinente americano... Para já não falar na fantástica onda de crime organizado e de corrupção que varre hoje o tecido político da União Europeia. E só agora parece começar a aceitar-se que a banca, em mão privadas, é incontrolável, para lá de aniquilar o poder político do Estado e ditar um fim, por inutilidade, à prática democrática. Ao que nos conduziu o fim do comunismo...
Termino, pois, como comecei: o que agora pôde ver-se no Mediterrâneo é um autêntico pecado mortal dos líderes dos países ricos e mais desenvolvidos, verdadeiros responsáveis pelo estado em que se encontram os antigos territórios que tutelaram e vêm explorando desde sempre.