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|Hélio Bernardo Lopes| |
Um caso completamente inédito, mormente pela dimensão das penas, mas que se crê ser uma realidade hoje em crescendo nos Estados Unidos. Pelo meu lado, admito que tal realidade, com a privatização de tudo e das botas restantes, deverá ser hoje imensamente universal.
Este caso trouxe-me ao pensamento dois outros acontecimentos: o da Volta à França, com Lance Armstrong, e o de Salazar, não reconhecendo os títulos académicos obtidos fora de Portugal. Vejamos, então, estes dois casos.
Quanto ao primeiro, ele deriva, como facilmente se percebeu – sabe-se desde há muito – do imperativo de vencer e de (supostamente) fazer melhor, e sempre por métodos naturais. Ora, eu pude – e já lá vão umas cinco ou seis décadas – defender, junto de José Esteves, numa sua palestra na sede de então d’Os Belenenses, este meu ponto de vista: os novos máximos desportivos, a partir de certo momento, só poderão ser conseguidos por via de fatores exteriores ao atleta e ao seu treino.
Acontece, porém, que estes fatores só lentamente se desenvolvem, o que acabou por determinar o recurso louco e sem moral à dopagem. Hoje, conhece-se já o suficiente para poder imaginar o que deverá ser a verdadeira realidade por detrás desta prática imoral e criminosa. É, no fundo, o preço da competitividade sem limites, que de pronto hipertrofiou o papel social do lucro, levando à procura de máximos por qualquer processo e feitio.
Mas olhemos, agora, o segundo caso citado ao início. Como se sabe – ainda hoje é assim –, o que é lá de fora é que é bom. Tal significaria, naquele tempo longínquo, que, a serem reconhecidos os títulos académicos obtidos fora de Portugal, de pronto por aqui nos surgiria uma miríade de supostas sumidades. Aliás, logo após a Revolução de 25 de Abril, surgiram terríveis lutas no seio das nossas academias ao redor da qualidade do trabalho produzido por portugueses que haviam vivido no exílio durante a II República. E se nos domínios da Sociologia e da Ciência Política ainda se veio a reconhecer, em Portugal, qualidade ao trabalho desses nossos concidadãos, já no das ciências exatas tudo acabou por dar em (quase) nada. Até no domínio da História.
Acontece, porém, que o acesso à universidade, nos Estados Unidos, é legalmente facultado a jovens cujos pais façam uma doação capaz à mesma, ainda que os filhos em causa não disponham das condições impostas, à entrada, à generalidade dos candidatos. E não me admiraria se, em Portugal, no domínio das universidades não públicas, esta prática pudesse ter lugar. No fundo, é a naturalíssima consequência do tudo privado.
O que estes professores fizeram foi o que também fizeram os gestores de grandes bancos, mesmo mundiais, hipertrofiando os lucros, de molde a conseguirem chorudos bónus. A grande diferença é que, neste caso, não tiveram lugar quaisquer condenações, uma vez que o sistema financeiro vive dessa mesma prática. Até porque, em caso de desgraça, pagamos nós. Talvez valha a pena que os professores ora condenados, logo que saiam da prisão, se determinem a criar um banco, mesmo que apenas estadual ao início.