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|Hélio Bernardo Lopes| |
Não possuindo ainda o seu livro que veio apresentar em Portugal, também não deixarei de o conseguir logo que possível. De resto, ainda o não vi nas livrarias mais próximas de minha casa. Mas não duvido do interesse das quatro centenas de páginas que o compõem. Em todo o caso, a sua entrevista é já deveras interessante, pelo que dela retirei alguns pontos que merecem um comentário.
Diz Escobar – o filho, arquiteto – que o seu pai não foi quem inventou o narcotráfico. E que com ele traficavam polícias, políticos, militares, congressistas, senadores, autarcas, presidentes de Câmara, governadores, desportistas conhecidos, estrelas da música, etc.. Bom, é uma evidência de que ninguém duvida. Uma realidade que se tem podido apreciar na excelente série da RTP 2, UM CRIME, UM CASTIGO.
Mas diz mais: que Pablo Escobar enfrentou uma oligarquia que não queria que ele fizesse tanto bem ao povo. Ora, é bem possível que isto corresponda à realidade, porque o tráfico de estupefacientes é, por todo o mundo, uma atividade comandada por quem realmente manda e tem poder. De preferência, conseguido por via de eleições democráticas, mesmo que desprovidas de conteúdo válido para a generalidade dos cidadãos. Ou seja, como se vai podendo ver, um pouco por todo o lado do mundo destes dias.
Embora nem sempre tenha tido a minha posição de hoje – já desde há uns anos –, também o arquiteto Escobar tem razão quando salienta que quanto mais se proibir, mais o narcotráfico gera dinheiro. E cita o histórico exemplo da Lei Seca, nos Estados Unidos, referindo que quando entrou em vigor, a primeira que coisa que apareceu foi um exército de criminosos, e que quando desapareceu a primeira coisa que seguiu caminho idêntico foi a violência associada ao álcool.
Com toda a lógica, o arquiteto Escobar diz que é tempo de, após quarenta anos de fracassos ininterruptos contra as drogas, se reverem as políticas até aqui adotadas, porque a única coisa que deixaram é um legado de violência e uma guerra fratricida entre todos os povos latino-americanos, que lutam uns contra os outros para levar o elixir às grandes potências.
Enfim, é uma entrevista que vale a pena ser lida, porque trata o tema dos estupefacientes com verdade, de um modo aberto e sincero, e à luz do facto do seu consumo ser um problema de saúde pública.