A candidatura de António Sampaio da Nóvoa

|Hélio Bernardo Lopes|
O desenvolvimento do mecanismo eleitoral do ano que vem, destinado a eleger um novo Presidente da República, está a mostrar o estado de forte degradação a que chegou a imagem das instituições que dão corpo ao funcionamento da nossa III República. 

Quando o tema é abordado numa conversa corrente, de pronto nos surge uma marca de pessimismo e de desinteresse por tudo o que possa prender-se com a vida política.

Facilmente se constata uma ausência de crédito perante a generalidade dos nomes avançados, começando a percecionar-se que uma vitória do candidato da direita, a ter lugar na primeira volta, ficará sempre marcada por uma forte falta de representatividade eleitoral, fruto de uma abstenção que será, nessas circunstâncias, muito elevada. O mesmo não se dará se vier a ter lugar uma segunda volta, dado que, num tal cenário, o fator bipolarizador terá um papel muito mobilizador.

Estes dias mais recentes estão a marcar-se pelo pré-surgimento da candidatura do académico António Sampaio da Nóvoa, que foi, até há algum tempo atrás, reitor da Universidade de Lisboa. E, como sempre tem lugar nestas situações, de pronto surgem tomadas de posição ou notícias de todo o tipo. Neste sentido, afloro aqui três aspetos que penso serem essenciais numa candidatura ao Presidente da República.

Em primeiro lugar, a qualidade pessoal e profissional. Tem sido um tema muito referido por comentadores e analistas, que apontam, com elevada frequência, que falta a presença de gente qualificada na política, apontando mesmo a Assembleia Constituinte e a primeira Assembleia da República como caraterizadas por uma mui elevada qualidade dos seus membros. Pois, António Sampaio da Nóvoa satisfaz plenamente este critério de exigência.

Em segundo lugar, o facto de ser pouco conhecido e de ser mesmo uma segunda escolha por parte do PS. Bom, são dois argumentos de muitíssimo pouco valor. Desde logo, porque nem mesmo António Guterres seria a primeira escolha se Jorge Sampaio pudesse continuar a candidatar-se sem limite, se as sondagens continuassem a dá-lo como vencedor e ele mesmo entendesse querer prosseguir em tais funções. E depois, porque António Sampaio da Nóvoa é conhecido desde há muito e ainda muito mais desde a recente notícia da sua candidatura. Mais umas semanas, e este argumento deixará de possuir um infinitésimo de realismo.

E, em terceiro lugar, o facto de ser exterior aos partidos, até mais inclinado para a esquerda que para o centro. Bom, ser exterior aos partidos não é nem deixa de ser importante. Até porque os candidatos que se vêm perfilando, como referi ao início, veem-se atingidos pela descrença geral na vida política destes dias. E depois, porque nunca se poderá imaginar em Sampaio da Nóvoa um comportamento, como Presidente da República, simétrico do protagonizado pelo Presidente Cavaco Silva. Sendo eleito Presidente da República, António Sampaio da Nóvoa, não abdicando do seu pensamento estruturado ao longo da vida, será sempre um Presidente para todos os portugueses, ao contrário do que se pôde ver com a ação política do Presidente Cavaco Silva.

Um dado há, porém, a ter em conta nesta corrida presidencial: a direita corre, sobretudo, suportada em interesses, o que dificultará sempre o surgimento de vários candidatos da sua área. Por muito que diga Pedro Santana Lopes em contrário, não deverá surgir-lhe a vontade nem a determinação suficientes para se candidatar ao Presidente da República. E quem diz o ex-Primeiro-Ministro, diz Rui Rio. Nem por aí surgirá, na direita, um candidato simétrico de Henrique Neto, ele mesmo um importante trunfo para essa mesma direita. É um domínio – o dos interesses – onde a direita sabe o que quer e para onde vai. Basta recordar o preço pago por Diogo Freitas do Amaral por ter aceitado ser ministro de um Governo de José Sócrates. Em todo o caso, António Sampaio da Nóvoa tem, como usa dizer-se, uma boa parte do tempo do mundo para mostrar aos portugueses a vantagem de ser eleito Presidente da República.

Por fim, um outro ponto, porventura o mais relevante: parar a desgraça que se instalou junto da generalidade dos portugueses com a atual e trágica Maioria-Governo-Presidente exige, acima de tudo, uma mudança na escolha política do próximo Presidente da República. Voltar a fazê-lo na área da direita, será completar o suicídio político da III República.

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