![]() |
|Hélio Bernardo Lopes| |
Como teria de dar-se, logo se discutiu a posição a assumir perante tal crime, mas a generalidade dos católicos portugueses optou – cinicamente, claro está – por fingir não saber se a autoria do crime havia sido da direita ou da esquerda, a fim de incriminar a direita!! Optou-se, pois, por não assumir nenhuma posição sobre os mentores do crime, o que não se deu, por exemplo, com o homicídio do padre Popielusco.
Ao tempo do homicídio do arcebispo Óscar Romero era Papa João Paulo II, que nunca apontou a realidade que esteve por detrás daquele crime. E, como se percebe facilmente, não é possível que a Igreja Católica não conseguisse saber a verdade do que se passou.
Simplesmente, acabou por dar-se início a um processo de beatificação de Óscar Romero, mas apenas iniciado em 1994 e após a conclusão da sua fase diocesana. Mais tarde, em 1997, o processo transitou para a Congregação da Doutrina da Fé, para que desse a essencial autorização.
Mas o processo acabou por ser interrompido, sendo que apenas em 2005 a Congregação para a Causa dos Santos deu autorização para que prosseguisse. Significa isto, pois, que enquanto esteve em Roma João Paulo II o processo praticamente não andou para diante, dado que só foi retomado em 2005, com o seu homicídio a ter tido lugar em 1980. Mesmo com Bento XVI no Vaticano e já como Papa, o processo nada avançou.
Com a chegada do Papa Francisco, em março de 2013, operou-se uma alteração completa no andamento do processo, com uma aceleração na beatificação do arcebispo Óscar Romero. Neste momento, encontra-se já aprovado o decreto que reconhece o martírio de Óscar Romero, o que significa que foi assassinado por ódio à fé. Um ódio que proveio da direita católica salvadorenha, habituada às tradições católicas, mas delas fazendo tábua rasa em função dos seus interesses materiais mesquinhos.
Óscar Romero, defensor empenhado dos mais pobres e desprotegidos, foi assassinado a tiro perto do fim de março de 1980, às ordens de um esquadrão da morte de extrema-direita, quando celebrava uma missa na capela de um hospital para doentes com cancro, nos dias que antecederam o início do conflito salvadorenho.
Esta recente decisão pontifícia marca, indiscutivelmente, a reposição, por parte da Igreja Católica, de um ato de justiça que os antecessores de Francisco evitaram que avançasse, com ênfase muito especial para o caso de João Paulo II. Já lá vão trinta e cinco anos, e só agora um defensor dos pobres e dos carenciados veio a ser agraciado – digamos assim – pela Igreja Católica. É obra...