O que vê o doente de Alzheimer?

Assumir o ponto de vista de quem sofre de Alzheimer é o desafio lançado pelo projecto “Antípodas”. Serão 30 fotografias, associadas a imagens sonoras, para não esquecer (e compreender) uma patologia que afecta cerca de 90 mil pessoas em Portugal.

A exibição do projecto “Antípodas” acontecerá em Julho de 2015, no âmbito do Festival Jardins Efémeros, que se realiza em Viseu. Promovido por Luís Montanha e Pedro Cruz, o projecto lançou uma campanha de crowdfunding para assegurar a impressão fotográfica e a aquisição de dispositivos sonoros. Os interessados em apoiar esta causa podem fazê-lo através da plataforma PPL .

Iniciado em Março de 2014, o projecto “Antípodas” procura reflectir sobre a doença de Alzheimer, abrindo um espaço para o debate da doença nas Artes e potenciando um diálogo com o Social. Apostando na linguagem sonora para criar um contexto que envolva os sentidos do espectador, o projecto Antípodas oferece um retrato metafórico da doença de Alzheimer e das suas consequências, a partir do ponto de vista do próprio doente.

“O projecto é baseado numa experiência com a minha avó. Acompanhei-a durante meio ano, tempo que me permitiu conhecer de perto a doença e sentir que, através deste projecto, poderia ajudar as pessoas – todos os cuidadores, familiares, etc. – a perceber a complexidade desta patologia”, revela Luís Montanha.


O projecto “Antípodas” distingue-se pela forma como se captam os ângulos das vivências de um doente de Alzheimer e, em simultâneo, como se casam com os registos sonoros. “A ideia é que a câmara assuma a consciência do doente, ou seja, a câmara não fotografa as pessoas à distância”, salienta Luís Montanha. Munido de um MP3 e headphones, o visitante “vai passar por alguns momentos de confusão e lucidez, uma intermitência como a própria doença”. “O som será uma espécie de sedativo que pretende que o espectador experiencie o projecto com todos os sentidos possíveis”, avança Pedro Cruz.

O projecto “Antípodas” será exibido numa casa de dois pisos, marcados pela parcimónia do mobiliário e pela fraca iluminação. “É importante que o espectador sinta que o lugar é ou foi habitado, que se sinta familiarizado como se fosse a própria casa”, refere Luís Montanha. O espaço estará, assim, em constante diálogo com as imagens e contribuirá para uma sensação de (re)descoberta.

Entidades públicas e privadas que desenvolvam actividades no âmbito do apoio social, cuidadores, estudantes de Medicina, Psicologia, Gerontologia ou de outras áreas relacionadas são alguns dos públicos-alvo do projecto Antípodas. “A visita à exposição permitir-lhes-á uma compreensão mais clara do comportamento da doença, uma experiência sensorial, a possibilidade de ocupar o lugar do «outro» e criar cumplicidade”, sublinham os mentores do projecto “Antípodas”.

Depois da estreia do projecto, no Jardins Efémeros de 2015, será lançado um livro e ainda um CD com a faixa sonora produzida para a exposição.

Sobre os promotores do projecto “Antípodas”
O projecto “Antípodas” está a nascer das mãos de Luís Montanha e Pedro Cruz, dois jovens que se cruzaram no Instituto Politécnico de Tomar e descobriram interesses em comum.


Nascido em Vila Real, Luís Montanha licenciou-se em Cinema pelo Instituto Politécnico de Tomar e frequenta o Mestrado em Design da Imagem, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Em paralelo, tem-se dedicado à produção e programação de eventos culturais, sem nunca perder de vista a fotografia. Isso valeu-lhe ter sido seleccionado para integrar uma Masterclass do colectivo [Kameraphoto]. O trabalho daí resultante, que baptizou como “Murmúrio”, foi exposto na edição de 2013 do Entre Margens, um projecto de intervenção artística em várias cidades da região do Douro. No currículo de Luís Montanha, destaca-se ainda a mentoria do Creative Mornings Porto, do .GIF – Encontro de Artes Visuais e do Shortcutz Xpress Vila Real.

Já Pedro Cruz, natural de Aveiro, enveredou por uma licenciatura em Cinema, no Instituto Politécnico de Tomar, depois de ter concluído a formação em Psicologia na Universidade do Porto. Tem-se dedicado à produção de documentários e teasers, destacando-se o projecto “Do You Bowles”, encomendado para a tese de Doutoramento de Hermínia Sol. Contudo, é o design de som que se impõe como epicentro da sua criatividade, daí o trabalho de sonorização do projecto “Antípodas”.

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