Era preferível estar calado

|Hélio Bernardo Lopes|
Num dos últimos dias da passada semana, no Frente-a-Frente da SIC Notícias, tive a oportunidade de escutar as palavras de João Soares no tema do seu primeiro minuto e que tocaram o que está a passar-se na Ucrânia e vem decorrendo já de há muito. 

Bom, caro leitor, fiquei verdadeiramente desagradado, porque João Soares bem podia ter escolhido um outro tema se, como tudo faz crer ser o caso, não dispõe do essencial grau de liberdade para tratar este tema com a independência que se requer face à Alemanha, à França e aos Estados Unidos.

Depois de quanto já lhe pude ouvir sobre a responsabilidade europeia e sobre o excecional diplomata que é Serguei Lavrov, vir agora apontar, com aquela cara de enfado que se pôde ver, o Senhor Putin como o mau desta fita, é verdadeiramente de bradar aos céus! No fundo, João Soares esquece o que está por detrás do que se vem passando na Ucrânia, obliterando mesmo as recentes revelações de Barack Obama, de que os Estados Unidos tiveram uma mão no que se passou com o derrube do regime eleito que antecedeu, na Ucrânia, o atual, claramente ao serviço dos interesses geostratégicos ocidentais, muito em especial dos Estados Unidos.

A uma primeira vista, João Soares como que assobia para o lado, fingindo não perceber que uma tentativa de solução militar na Ucrânia só servirá para criar uma escalada na guerra. Uma guerra que a extrema-direita dos Estados Unidos sempre desejou, já mesmo ao tempo de Eisenhower e dos que se lhe seguiram. João Soares parece ter esquecido toda esta realidade.

E, a uma segunda vista, também nos fica a sensação de que João Soares não percebeu ainda esta fortíssima razão de Vladimir Putin: graças a Deus que não há guerra, embora exista uma tentativa de travar o nosso desenvolvimento de diferentes formas. À luz desta segunda vista, João Soares parece não entender que a pobreza e a miséria que vivem hoje portugueses, espanhóis, irlandeses e gregos – pelo menos – tem a mesma causa que o que se passa na Ucrânia, e que é o pensamento único neoliberal, vendido pelos Estados Unidos sob a forma de democracias – lembremos o Iraque, o Afeganistão, a Primavera Árabe, a Palestina, a Síria, etc. – e que os portugueses conhecem à custa de um sofrimento impensável há uns anos atrás.

E, a uma terceira vista, parece que João Soares não se terá ainda dado conta desta realidade apontada por Putin: existe uma tentativa dos Estados Unidos de impor uma ordem mundial com um único dirigente, que foi crescendo nas últimas décadas, desde o desaparecimento da União Soviética. Então, é falso ou verdadeiro? O que acha destas palavras João Soares? Ou será que continua a manter o (seu) socialismo (dito) democrático na gaveta? Em que se fica?

Por tudo isto, termino com o título deste texto: seria preferível que João Soares tivesse escolhido um outro tema para aquele seu minuto inicial, uma vez que parece não possuir liberdade para poder comentar a realidade política destes dias.

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