O meu Natal

|Hélio Bernardo Lopes|
O tema e o tempo do Natal geram, naturalmente, sentimentos diversos. Falando com verdade, o Natal foi sempre, para mim, o tempo da convivência, das férias e das prendas. Infelizmente, a convivência tem vindo a diminuir, mesmo quando as pessoas estão próximas, o que se fica a dever à omnipresença de estruturas comunicacionais diversas.

É verdade que, de um modo ou de outro, os bons sentimentos também continuam a estar presentes, mas muito mais atenuados. O que comigo também é verdade é que, em mui boa medida, o Natal acompanha-me sempre ao longo de todo o ano, porque sempre estou à disposição de quem possa precisar dos meus préstimos, seja rico ou necessitado de algo de que eu disponha. Como algum saber, por exemplo.

À luz do que acabo de escrever, este meu Natal teve as férias dos meus netos – trabalho extra para os avós – e teve as sempre tão agradáveis prendas. Como sempre, livros. De resto, por mim indicados antecipadamente. Mas também uma excelente samarra de Manteigas, cinzenta e com gola de pele, que continua a pertencer ao meu filho e que só usou uma vez nos últimos dois anos. Um empréstimo, portanto, mas uma verdadeira lança em África, como usa dizer-se.

Quanto aos livros, recebi O CRISTIANISMO: ESSÊNCIA E HISTÓRIA, de Hans Küng, de que havia tomado conhecimento no programa dominical de José Pacheco Pereira; BIFES MAL PASSADOS – Passeios e outras catástrofes por terras de Sua Majestade, de João Magueijo; GUERRA NAS SOMBRAS. O Exército Secreto da CIA, de Mark Mazzetti; EM DEFESA DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL, do académico Jorge Reis Novais; A CHAVE DE SALOMÃO, de José Rodrigues dos Santos; A FILHA DO PAPA, de Luís Miguel Rocha; OS ESPIÕES DO PAPA, de Eric Frattini, e SUA SANTIDADE, de Gianluigi Nuzzi. Tudo obras muito interessantes, até com uma mui ligeira variação temática. Estimo agora tê-las lidas pelo final do mês que se aproxima.

Desta vez, porém, não me determinei a encetar nenhuma delas logo na Noite de Natal, depois de chegados a casa, como é usual. Tendo operado um olhar prospetivo sobre as obras em causa na primeira hora, deitado e coberto na cama que foi do meu filho, logo passei a tentar pôr um fim em três dissertações de mestrado que estavam já perto do fim: A REGRA DE HOSPITAL, A BROTÉRIA E A JUSTIÇA SOCIAL NO ESTADO NOVO e A EDUCAÇÃO MORAL E RELIGIOSA NO SECUNDÁRIO. Terminei-as na noite do Dia de Natal, pelo que comecei a ler a obra de João Magueijo na sexta-feira seguinte, imediatamente antes do almoço. E é uma delícia.

O mesmo não posso referir sobre o ambiente da convivência, domínio em que deverei ter passado o meu pior Natal já desde há muito, dado que o diálogo esteve fortemente ausente. Consegui não me espraiar na refeição, mas faltou o ambiente de convivência e diálogo de que tanto gosto. Netos e sobrinhos-netos a ver filmes para crianças ou a jogar jogos pessoais, em salas e edifícios distintos e frontais. Muitos adultos em silêncio, olhos postos nos tablets ou similares, as mulheres a darem andamento à limpeza global, em ordem ao início da quase infinda distribuição de lembranças, com gritos e palmas claramente excedentários. Enfim, sobrou-me o resto da noite – deitei-me pelas quase seis –, com as três dissertações atrás referidas à beira do fim. Um tempo de sentimentos diversos.

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