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|Hélio Bernardo Lopes| |
Fora um atentado terrorista, sem dúvida, mas de origem desconhecida e para cujos resultados foi notória uma forte desorientação explicativa e operacional.
Os jornalistas limitaram-se a fazer perguntas, muitas vezes sem lógica, e os especialistas convidados, invariavelmente, não foram à realidade subjacente ao que agora, mais uma vez, pôde ver-se. Primeiro em França, e já a meio desta tarde em Madrid. É o Ocidente Europeu completamente de cócoras, incapaz de escalpelizar a realidade que fez criar, com o cortejo de consequências que não param de nos chegar a cada dia que passa.
Os políticos que vão sendo eleitos nos Estados do Ocidente têm de conseguir ter a lucidez de perceber que existem problemas sem solução. Mesmo admitindo que o Islão não contém qualquer laivo de proposta violenta, a verdade é que o que agora, mais uma vez, se passou proveio dos que realmente acabam por comandar os territórios onde o Islão é a religião predominante. É esta minoria, em geral oriunda de uma estrutura humana pautada por uma miséria profunda, que acaba por condicionar os restantes povos do Islão e por atacar muitos destes e de outras religiões de referência.
Custa perceber a hipocrisia hoje reinante no Ocidente, mormente na grande comunicação social, a cuja luz a ideia de Huntington, do conflito inevitável de civilizações, não tem cabimento. Dizem isto porque querem acreditar nesta cartilha. A uma primeira vista, parecem acreditar que uma massa humana miserável, sem grandes más intenções, pode inorganicamente opor-se a minorias fanatizadas e que até acabam por ser armadas por via das negociatas com o próprio Ocidente, espaço hoje sem valores e onde agora tudo se negoceia.
Como facilmente se percebe, o que teve lugar em Paris voltará a surgir num dias destes e num outro local qualquer. Como se vem dando, de um modo paulatino, ao longo dos anos. É essencial perceber-se que existem problemas sem solução e que nem tudo é suscetível de se conseguir relativizar, como se vem dando no Ocidente. Em todo o caso, uma relativização que também se vê acompanhada de uma decadência profunda. E a todos os níveis.
Por fim, uma chamada de atenção, já em tempos feita por Diogo Freitas do Amaral, na noite do tristemente célebre 11 de Setembro: temos de recusar o acobardamento, prosseguindo com a nossa vida de ampla liberdade. Mas temos, por igual, de perceber que a vitória na defesa de tal finalidade tem custos e não pode conseguir-se sem que se imponha aos que vivem no Ocidente a sua aceitação plena dos valores que lhe são subjacentes. Um dado é certo: perante o estado a que se chegou, impõe-se um levantamento capaz dos riscos que hoje se acolitam no seio das sociedades ocidentais. É que não se pode ter tudo por dois escudos...