Propensão

|Hélio Bernardo Lopes|
Sempre que tenho a oportunidade de ler textos de Vasco Pulido Valente, de pronto me dou conta da sua imparável propensão para as posições políticas da direita atual. Posições materializadas nos mais pequenos detalhes dos seus escritos. Precisamente, o que voltou agora a ter lugar no seu mais recente texto, dado à estampa no Público.

A dado passo do mesmo, Vasco Pulido Valente salienta que José Sócrates foi preso por suspeitas de que é um criminoso, solicitando a alguém que explique ao nosso antigo Primeiro-Ministro que não foi preso pela PIDE, a KGB ou a STASI por razões políticas. Embora não o referindo, tem de aceitar-se que Vasco considera que se vive aqui num Estado de Direito, situação que deverá estender ao Reino Unido. Mesmo o dos tempos de Margaret Thatcher.

Simplesmente, Pulido Valente esquece os casos d’Os Seis de Birmingham, d’Os Quatro de Guilford e dos Sete Maguire, todos passados no Reino Unido, e sobre os quais o Governo Britânico veio reconhecer o crime praticado pelas autoridades policiais do país, materializado no forjar de provas. Como esquece, mais recentemente, o interrogatório, no Tribunal de Grande Instância de Paris, a Dominique de Villepin, durante bem mais de dez horas e que terminou já pelas três da madrugada. Afinal, havia sido uma malandrice... Ou o caso de Dominique Strauss-Kahn, ocorrido nos Estados Unidos, e que se saldou como se sabe. Ou, ainda, o do assassínio de Kadafi, com a França isolada no seu apoio à (dita) revolta líbia, e quando se falava à boca cheia do apoio do dinheiro de Kadafi à campanha de Sarkozy...

Sem estranheza, a Vasco Pulido Valente só ocorreu a PIDE, o KGB e a STASI. Podia ter referido a DINA chilena de Pinochet, ou a DIPA argentina de Videla, ou o DOI-CODI do Brasil, ou a ESAC da Guatemala, ou o SES da Bolívia, ou o BOSS da África do Sul, ou a BCI espanhola, ou, valendo por tudo o resto, o FBI de Hoover, a CIA de sempre ou a NSA que todos hoje continua a escutar. Mas não. Esqueceu-se.

Claro está que o caso que foi tratado pelo nosso Ministério Público e decidido pelo juiz Carlos Alexandre nada tem de comparável com os terríveis casos que refiro atrás. Aqui o que conta é aquela propensão de Vasco Pulido Valente para só ver o mal na PIDE, na STASI e no KGB. É pouco, é distorcido e é muito mau. Porque há muito pior, um pouco por todo o mundo. É uma indisfarçável propensão.

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