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|Tânia Rei| |
Nos objectos materiais, não importa se há falhas, se não é perfeitinho.
Nas relações, o caso muda de figura, e até uma unha mal pintada pode ser um sinal menos. As imperfeições contam, e de que maneira! E no caso, menos não é mais - é só menos.
Tem que se ser perfeito para chamar a atenção. Não basta o “je ne sais quoi”, as cláusulas são mais extensas. E, (que raio!) agradar é complicado! A melhor comparação possível, e justamente em época natalícia, é imaginar uma criança a escrever a lista de presentes que espera obter do Pai Natal. Só que, chegado o dia e o almejado presente, descobre-se que, afinal, não tem raios laser ou que não traz o vestido de princesa que está pintado na caixa.
Quer-se sempre mais. Mas, mais o quê?
“Não temos gostos semelhantes, não frequentamos os mesmos sítios, não temos amigos em comum. Não gosto da forma como se veste, devia ir ao ginásio, não me leva a jantar fora.” – é uma carrada de itens, precedidos da palavra “não”, que anda por aí a circular, como um vírus. Deviam fazer um estudo de caso, porque desconfio que isto se pega nos cafés, na rua, nas redes sociais, e, claro, através do espirro.
Zero defeitos, contra falhas e com seguro contra todos os riscos – assim se querem as relações. Como se fôssemos Barbies e Kens, que vivem numa mansão cor-de-rosa.
Eu, pessoalmente, gosto de defeitos. Os defeitos são os verdadeiros diferenciais. Por que é que acham que os casais com mais idade dizem coisas do género “Esta mulher é teimosa, sempre foi, desde que nos conhecemos!”. E conhecerem-se, namoraram-se, casaram-se e tiveram uma vida em comum. Porquê? Porque se ela não fosse teimosa, não era a “ela” dele, era outra “ela” qualquer, só mais uma “ela” que anda por aí.
“Gosto como é. Gosto de como cheira. Gosto da conversa. Gosto daquele sinal, que lhe dá tanto charme. Gosto de lhe dar a mão. Gostava de lhe fazer crepes, um dia.” – e que tal uma lista assim?
“Gosto, gosto, gosto”. Gosto de gostar ao natural, tudo na afirmativa, sem perfeição. É que, no final das contas, só somos realmente perfeitos a encontrar defeitos.