Vivíamos acima das nossas possibilidades...

|Hélio Bernardo Lopes|
Os portugueses, ao longo de muitas décadas, não mais vão esquecer a célebre frase de que viviam acima das suas possibilidades. Uma tremenda mentira, ao menos em termos de grandes números. Pelo contrário, eram os detentores do poder, num sentido aqui muito lato, que sempre se encontraram nessa situação durante a III República.

A nossa adesão à União Europeia foi, como alguns tanto referiram, um verdadeiro desastre, porque nos colocou como um dos grandes desse espaço quando, de facto, não o eramos, não somos nem seremos. Seguiu-se a adoção do euro como moeda, o que completou o desastroso quadro político-social que se vai podendo ver. O que é certo, é que se dizia que vivíamos acima das nossas possibilidades.

Pois, eis que acaba de saber-se o que, no fundo, se pratica por todo o lado do mundo capitalista: o Governo do Luxemburgo, então liderado pelo atual Presidente da Comissão Europeia, ajudava muitas centenas de empresas a fugir ao fisco nos seus países, mantendo acordos secretos, não escrutinados, com as referidas multinacionais.

Diz o atual Governo do Luxemburgo que se tratava de uma atividade inteiramente legal. Talvez sim. Em todo o caso, uma atividade que passava ao lado das regras do Estado de Direito Democrático, dado que os referidos contratos não eram públicos – eram secretos – e não eram suscetíveis de escrutínio.

Simplesmente, eles eram, sobretudo, imorais, dado que serviam para que as grandes multinacionais fugissem ao fisco nos seus países, assim prejudicando os seus concidadãos. Seria bom perguntar ao Papa Francisco o que pensa desta prática, certamente também operada, ao longo de muitas décadas, pelo dito Banco do Vaticano.

Por tudo isto, achei de grande coragem as palavras de António Arnaut, que parece ter percebido – até que enfim! – esta realidade simples e tão evidente desde há muito: admite já a saída de Portugal do euro e da União Europeia. E vai mais longe, defendendo a necessidade de um movimento de reabilitação nacional e das instituições democráticas, que venha a concitar o apoio dos países lusófonos, revitalizando a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Devia ser este, e de há muito, o caminho prosseguido por Portugal, no lugar de andar a brincar aos inúteis Estados da União Europeia. Exceto, claro está, para os milionários eurodeputados ou funcionários da mega-estrutura.

Os portugueses não têm vivido acima das suas possibilidades, mas estão a pagar o modo clubista como foram vivendo a prática política democrática. Por essa Europa fora todos mudam, exceto os portugueses, sempre dizendo mal de todos, mas sempre votando nos mesmos. O preço está bem à vista...

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