O dinheiro é para gastar. Bem ou Mal

|Hélio Bernardo Lopes|
Nunca duvidei, por um só breve instante, da completa inutilidade do inquérito parlamentar ao caso GES/BES. E bastaram-me bocados da tarde de ontem, pelas televisões ou pela comunicação social online, para perceber que o resultado final dos trabalhos que ora começaram se saldará em nada. Como (quase) sempre teve lugar com iniciativas deste tipo.

Este primeiro dia mostrou um dado muito interessante: Carlos Costa não pôde ir mais longe e mais cedo por limitações derivadas da legislação aplicável. E é bem possível que assim seja. Ao menos no cenário que estava ali em causa. De molde que surge a pergunta: o que irá agora fazer a Assembleia da República, de molde a evitar que novas situações similares se deparem com idênticas limitações? Pois, a minha opinião é que nada irá ser feito.

Acontece que o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, referiu o exemplo do seu congénere britânico, a quem assiste o poder discricionário de fazer sair da administração de um qualquer banco que opere no Reino Unido uma personalidade que dê mostras de um qualquer grau de falta de qualidade. Só que este modelo não pode ser aplicado entre nós, a não ser com o grave risco de colocar nas mãos de uma só pessoa o peso de pôr na rua, em nome da falta qualidade profissional ou ética, quem politicamente não convenha, ou não convenha a adversários da vida financeira. Como muito bem disse João Cravinho a Mário Crespo, em Portugal há portugueses, ao passo que na Inglaterra há ingleses.

Como todos sabemos bem, Portugal é um país pequeno, com a maior parte da sua população a viver em cidades, sobretudo, na faixa litoral. A generalidade destes nossos concidadãos tem família nas suas terras de origem. Em mui boa medida, quase toda a gente se conhece, sendo que cada um, com enorme facilidade, pode conseguir, em curto espaço de tempo, a garantia de um contacto num qualquer lugar do País. É fácil o contacto e também encontrar quem ajude a abrir portas.

A tudo isto, soma-se a pobreza geral, que continua a levar legiões de concidadãos nossos para a diáspora, e pelas sete partidas do mundo. É, aliás, uma realidade muitíssimo antiga e que, como se vê, continua a manter-se. O português é limitado a organizar, mas é muito habilidoso na sua adaptação aos modelos já postos a funcionar por outros. De molde que se foi desenvolvendo por aqui o método do desenrasca, sempre à luz de uma lamentável máxima, que era a de que o difícil não é viver, mas saber viver. Um modo de estar na vida que, num tempo sem moral e com as fantásticas facilidades da democracia e do tudo escancarado, conduziu ao que se tem vindo a ver e se percebe que prosseguirá o seu caminho.

De tudo isto e olhando a história dos resultados das comissões parlamentares de inquérito, só por dever de ofício se pode imaginar que desta mais recente, sobre o caso GES/BES, sobrevirá um qualquer resultado útil. Tal como nos casos BCP, BPN e BPP, os portugueses conhecem já muitíssimo bem o contorno do que está agora em causa. E sabem, pois, que a probabilidade de se vir a fazer justiça, política ou a outra, é infinitamente pequena. Se ainda hoje se continua à espera de saber se Miguel Relvas vê reconhecido, ou não, o seu título académico, porque iremos esperar o que quer que seja de um caso com a dimensão GES/BES?!

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