Um vergonhoso silêncio cúmplice

Hélio Bernardo Lopes
Há umas duas semanas, Barack Obama veio reconhecer que a CIA havia aplicado a tortura sobre detidos diversos de Guantánamo, supostamente ligados à Al-Qaeda. 

Nunca duvidei de tal realidade, desde que as primeiras denúncias começaram a surgir. Sobretudo, depois de a brigadeiro-general, Jannis Karpinsky, ter explicado ao Mundo o que se havia passado no Iraque e de ter desafiado as autoridades norte-americanas a levarem-na a conselho de guerra, o que nunca teve lugar...

Sem estranheza, por rápido percebi que tudo não passava de uma defesa para memória futura, digamos assim. De um modo mais simples: o melhor é reconhecer tal realidade com ar pesaroso, não venha o Diabo tecê-las... De resto, isto mesmo se havia já passado com a espionagem maciça da Agência Nacional de Segurança. E, como normalmente, dos restantes membros da OTAN nem uma palavrinha. Mesmo que dita com graça e de um modo claramente ineficaz. Um vergonhoso silêncio cúmplice.

No entretanto, surgiram nas mãos dos jornalistas cerca de três dezenas de vídeos classificados que mostram o modo forçado como a alimentação é imposta aos detidos de em Guantánamo. Como seria de esperar, o Governo dos Estados Unidos – Obama, portanto – opôs-se à divulgação dos vídeos em causa, naturalmente invocando (falsas) razões ligadas à segurança nacional, porventura mesmo aspetos de legalidade formal. Tentou-se sobrepor estes à denúncia de uma violação grave dos Direitos Humanos, para mais sobre gente detida há muitos anos, sem culpa formal nem direitos jurídicos naturais. Um outro mundo.

Malgrado todo o poder do Governo dos Estados Unidos, a verdade é que um juiz federal de Washington ordenou, nesta última sexta-feira, a divulgação dos referidos vídeos. a juíza Gladys Kessler, que preside ao referido tribunal federal, decidiu a favor de dezasseis órgãos de comunicação social que exigiam a divulgação dos vídeos em causa. Foi, indiscutivelmente, um tiunfo da liberdade de informar sobre os (ditos) interesses da segurança nacional.

Estes vídeos mostram o sírio Abou Dhiab, preso desde 2002 sem culpa formada, a ser levado algemado para uma sala onde lhe são instaladas sondas nasais, por via das quais os alimentos lhe são ministrados à força. O tribunal vai agora pronunciar-se sobre se tal prática pode ser suspensa, como exige Abou Dhiab.

Existe, em tudo isto, diversos aspetos que merecem uma palavra. Mas o que mais me interessa aqui relevar é o modo silenciosamente cobarde como os Estados da OTAN – e mesmo a Rússia e a China – se têm comportado, já lá vão muitos anos, sobre esta e outras violações de Direitos Humanos. Por aqui se pode ver como os sempre tão brandidos Direitos Humanos, mormente no Ocidente, não passam de palavras de mera conveniência. E sobre responsabilidades criminais, pois, simplesmente nada. É um vergonhoso silêncio cúmplice.

Em contrapartida, entre nós surgiu agora a notícia de um recluso de Lisboa que terá sido transferido para Coimbra por ter filmado os efeitos da recente cheia no interior do Estabelecimento Prisional de Lisboa, que depois colocou no FACEBOOK. Como seria de esperar, tais imagens espalharam-se rapidamente pelas redes sociais. E agora? Surgirá algum juiz a intimar que o recluso não sofra esta transferência, só por ter mostrado certa realidade? Como eram uns malandros os políticos da II República...

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