Redescobrir a pólvora

|Hélio Bernardo Lopes|
Com extrema graça, foi como há dias encontrei a notícia de que os Estados Unidos terão pago milhões de dólares em pensões a dezenas de suspeitos de serem criminosos de guerra nazis. Muito sinceramente, reagi com um sorriso razoável, tal é o cinismo que a notícia comporta. Um cinismo conhecido de todos os interessados, ao redor da saída maciça de nazis a caminho do continente americano, muito deles para os Estados Unidos.

O tempo que antecedeu a II Guerra Mundial, depois da chegada dos nazis ao poder, foi marcado por uma forte contemporização dos principais Estados do Ocidente em face das diatribes e dos crimes dos nazis. Sempre no Ocidente se imaginou, desde o início, que a Alemanha de Hitler acabaria por voltar-se contra a antiga União Soviética.

Para enfrentar uma tal potencialidade, Estaline fez o que (quase) sempre se faz nestas circunstâncias: apoiou a Alemanha então ostracizada, na sequência do tratado de paz anterior, acabando mesmo por operar um pacto com os alemães. Odiavam-se mutuamente, mas era essencial para ambos prosseguir aquele caminho.

Quando a guerra terminou, a União Soviética estava na qualidade de vencedor aliado, embora o Ocidente continuasse a pensar pôr-lhe um fim. A extrema-direita norte-americana, que chegara a tentar depor Roosevelt, chegou mesmo a pressionar Truman, Eisenhower e Kennedy para que operassem um ataque maciço, com duzentas bombas nucleares, às trinta cidades mais importantes da antiga URSS...

O Ocidente, tal como a União Soviética, chegaram a criar grupos destinados a descobrir, por entre os escombros alemães, as principais personalidades nazis, das áreas científica e da espionagem, para irem para os seus países, o que veio a acontecer. Sobretudo, para os Estados Unidos. Mas muitos outros, igualmente criminosos mas sem grande importância naquelas áreas, acabaram por receber apoios diversos, mormente do Vaticano, seguindo para o subcontinente americano.

Tudo isto é conhecido e está hoje largamente desclassificado, pelo que se sabe que tudo era conhecido, desde o início, pelas autoridades norte-americanas. Embora num outro sentido, é interessante voltar a expor aqui o que se deu com o grande-almirante – marechal da Marinha – Dönitz, para quem foi pedida a pena de morte em Nuremberga por crimes de guerra no mar. Este, que determinou ser o seu próprio defensor, demonstrou no tribunal que o almirante da frota, Chester Nimitz – marechal da Marinha –, fizera precisamente o mesmo. Bom, Dönitz já não foi condenado à morte, mas apenas a dez anos e onze dias de prisão.

Também os militares dos Estados Unidos passaram, depois da rendição alemã, a fazer o que faziam os nazis aos resistentes franceses: sempre que um atirador nazi matava um militar americano, os americanos, ao acaso, escolhiam vinte alemães e executam-nos. Tudo isto está hoje documentado, sem que subsista um infinitésimo de dúvida. Nem as autoridades dos Estados Unidos já hoje negam tais factos.

A realidade ora noticiada nunca foi desconhecida das autoridades dos Estados Unidos. Nem o Vaticano deixou de ajudar os mil e um nazis que solicitaram o seu apoio. Entre a Rota das Ratazanas e as centenas de milhares de crimes sob o comando do croata católico Ante Pavelic – era o represente das autoridades alemãs na Croácia –, que veio a estar escondido no Vaticano dois anos, acabando por nunca ser julgado pelos seus crimes de guerra, é caso para que se diga: venha o Diabo e escolha.

Tal como há um tempo atrás pude escrever, à laia de previsão, o nazismo poderá estar de volta.

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