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Hélio Bernardo Lopes |
De pronto tomei como certo que a imagem por si criada, sendo sincera, se destinava, acima de tudo, a tentar recuperar da má imagem que a Igreja Católica havia concitado, mormente ao redor da sua banca, da pedofilia, mas também no enfrentamento das grandes questões normalmente ditas fraturantes.
Os críticos da Igreja Católica anterior a Francisco I, em geral completamente alheios ao seu magistério, apontavam diversos aspetos que exigiam tomadas de decisão de fundo: o casamento homossexual, com todos os seus derivados; o divórcio católico, mormente se com recasamento; o aborto; a eutanásia; o acesso das mulheres ao sacerdócio; o fim do celibato dos padres; e o caso da posse de um banco. Vejamos, então, o estado atual destes temas, já com o Papa Francisco à frente da Igreja Católica.
Em primeiro lugar, o acesso das mulheres ao sacerdócio. Pois, está tudo na mesma, ou seja, mesmo com Francisco I, as mulheres vão continuar a não poder aceder àquele patamar da vida sacerdotal. Mantém-se, pois, a situação que existia com João Paulo II e com Bento XVI. Em segundo lugar, o fim do celibato dos padres. Bom, esse fim simplesmente não chegou com o Papa Francisco. Tudo, portanto, como estava com João Paulo II e com Bento XVI.
Em terceiro lugar, o caso do dito Banco do Vaticano – de facto, o Instituto Para as Obras Religiosas. Pois, a verdade é que, depois de quanto já se viu, pelo Vaticano, por cá ou pelo resto do Mundo, Francisco I acabou por decidir que o Banco do Vaticano deverá continuar, embora nos diga que existe agora uma comissão – é presidida por um cardeal...– que supervisionará tudo... Tal como Adriano Moreira, também eu entendo que a Igreja Católica não é compaginável com a posse de um banco. Tudo, deste modo, mais ou menos como vinha de trás.
Em quarto lugar, o caso do aborto. Compreende-se que tudo esteja na mesma, mas já não que nos venham dizer que não aceitam a condenação das mulheres que ao mesmo recorram. Tudo, pois, na mesma como nos tempos de João Paulo II e Bento XVI.
Em quinto lugar, o caso da eutanásia. Compreende-se, igualmente, que tudo se mantenha, embora a Igreja Católica, na globalidade dos sacerdotes, pouco aponte a responsabilidade dos que lançam tanta gente desesperada para o suicídio. Portanto, nada mudou.
Em sexto lugar, o caso do dito casamento homossexual. Tal como quanto vinha já dos antecessores, também Francisco I irá manter a completa condenação deste tipo de intervenção social. De resto, teria sempre de ser assim. E quem diz o dito casamento homossexual, diz tudo o que lhe é satélite. O mesmo, portanto, que já existia com João Paulo II e Bento XVI.
E, em sétimo lugar, o caso do recasamento dos divorciados de casamentos católicos. Tudo, como já se ia percebendo, na mesma. Claro que se vai propalando a ideia de que a Igreja está aberta a todos, mas também tal teria sempre de ser dito. Ou seja, tudo como vinha já de antes, sem um infinitésimo de mudança.
Significa isto, pois, que a vinda do Papa Francisco nada realmente significou de substantivamente novo. Mudou a encenação – isso sim –, mas não o libreto. Mas o que é interessante em tudo isto é que os que tanto criticavam João Paulo II e Bento XVI, afinal, acham magnífica a ação pastoral de Francisco I! Francisco I que, ao final de todas as contas, nada mudou naqueles que eram apontados como os temas de fronteira entre a velha Igreja e a nova. Além do mais, devendo já o frio outonal andar lá por Roma, também as moscas não deverão abundar. Um eclipse total. O tudo em nada. O abismo entre o conteúdo e o invólucro.