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| Hélio Bernardo Lopes |
Fiz mesmo mais, escrevendo a um dos nossos bispos ou cardeais, chamando a sua atenção para tal realidade. A verdade é que, com a notável exceção do Papa Francisco, ontem em São Pedro, raros apontaram o crime em que se constituía a realidade do abandono dos mais idosos e que tem vindo a ter lugar nestes últimos três anos, mormente com os sucessivos cortes nas pensões dos aposentados.
O Papa Francisco foi de uma extrema oportunidade ao salientar que aqueles que não têm família devem ser acolhidos em lares, que não devem ser prisões mas antes verdadeiras casas, pulmões de humanidade numa cidade, num bairro ou numa paróquia, devem ser santuários de humanidade onde quem é velho e débil é cuidado como um irmão mais velho.
Tudo isto é mesmo assim, mas não é o caminho hoje a ser prosseguido no Mundo. O triunfo neoliberal e a globalização que se operou acabaram por ir determinando o abandono das pessoas idosas, que Francisco I apontou – e muito bem – como uma eutanásia disfarçada. Mas o Papa Francisco foi ainda mais claro: os anciãos não podem viver esquecidos e escondidos, até porque um povo que não trata bem os seus velhos é um povo sem futuro, porque perde a memória.
Os avós, de facto, são pais duas vezes, por vezes até três. São os avós quem tem que transmitir a experiência da vida, a história da família, da comunidade, de um povo e partilhar sabedoria. São árvores que continuam a dar frutos e que hoje se vêem fortemente atingidas pelos efeitos da cultura de desperdício.
Estas palavras do Papa Francisco, ontem na Praça de São Pedro, têm se ser levadas muito mais longe do que o mero alcance da ação noticiosa. Têm de ser os ramos nacionais da Igreja Católica a fazer ouvir o eco das mesmas na sua intervenção pastoral, o que, ao menos entre nós, raramente acontece.
E têm de determinar um movimento de católicos e não católicos que opere uma ação eficaz ao nível das comunidades mais pequenas, logo a começar pela rua, ou pela aldeia. Nunca duvidei de que a materialização da organização política hoje dominante iria conduzir a uma vasta onda de eutanásia por via do abandono dos idosos.
