Um cinismo a toda a prova

Hélio Bernardo Lopes
Mesmo com uma ou outra escaramuça, e com o mau perder do líder escocês ainda no poder, a grande verdade é que os escoceses e os britânicos deram ao Mundo uma excelente lição civilizacional de democracia e do reconhecimento de cada povo com matriz nacional a poder aceder à sua independência. E já agora, uma notinha para Marcelo: a vitória do NÃO não foi tangencial, mas por mais de dez e meio pontos percentuais.

A uma primeira vista, Mariano Rajoy ter-se-á sentido aliviado, mas tal é mera consequência de em si não sobreviver o conhecimento histórico, antes, ainda, os terríveis tiques do franquismo e dos seus terríveis crimes, só agora iniciado o seu ataque esclarecedor pelas Nações Unidas, mas sempre com a tentativa do Governo de Espanha de evitar fazer luz sobre quanto se passou e em pedir desculpa e condenar os criminosos homicidas.

Perante tudo isto, claramente conhecido, foi gracioso assistir ao fantástico cinismo de Mariano Rajoy em face do resultado escocês, felicitando os escoceses pela vitória do NÃO, que manteve a Nação Escocesa no Reino Unido. Rajoy fingiu não perceber que esta decisão foi assumida pelos escoceses e por uma mui razoável maioria: mais de dez e meio pontos percentuais.

Com um indisfarçável cinismo, Mariano Rajoy veio salientar que os escoceses, entre o isolamento e a abertura, entre a segurança e o risco, escolheram o mais favorável para todos, para eles e para o conjunto da Europa. E logo salientou acreditar que a integração na União Europeia é o caminho que nos permite enfrentar com êxito os reptos do futuro. Simplesmente fantástico! Um fantástico cinismo!!

Mas, então, a integração europeia destina-se a servir os europeus ou os Estados? Pois, a resposta de Mariano Rajoy o que mostra é que ele vê o Estado como uma estrutura totalitária: primeiro os Estados, só depois os cidadãos. Se os escoceses tivessem decidido, democraticamente, tornarem-se independentes do Reino Unido, na ótica política de Rajoy sobrar-lhes-ia o papel de párias europeus. Perderiam a possibilidade de continuar a ser europeus. É a democracia à Rajoy! É o modo de ver a democracia que conduziu à Guerra Civil de Espanha e que continua a suportar as tentativas de não apurar a responsabilidade pelos crimes do franquismo.

Como há dias pude escrever, eu sempre defendi que a Escócia esteja no Reino Unido. Mas existem problemas a resolver e que convém que as instituições do Reino Unido não façam por evitar. Um desses problemas liga-se à atitude relacional entre os quatro povos que constituem o Reino Unido. E também, muito provavelmente, ao Sistema Político, que deve mudar para algo de muito mais representativo e também psicologicamente unificador.

Por fim, mais uma grande lição: a grande superioridade democrática do Reino Unido em face da Espanha. Por sorte, a Armada Invencível foi ao fundo. A democracia não é para todos...

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