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| Hélio Bernardo Lopes |
Mas tudo foi em vão, desde manifestações, documentos públicos, reações globais de personalidades de reconhecido mérito, entrevistas com algumas dessas pessoas, artigos de opinião, etc..
A essência da recusa era o facto de aquele ser o único caminho possível – era a opinião dos que viviam atemorizados com a derrota mais que garantida –, mas também a nova doutrina introduzida pelo Presidente Cavaco Silva de que os mandatos deviam ir até ao fim e que quem podia mostrar o descontentamento popular seria sempre e só a Assembleia da República. Um ponto de vista que não havia defendido quando o Governo era chefiado por Sócrates.
Mas o tempo passou e eis que, num ápice, aí estão já, no PSD, dois defensores das eleições antecipadas, como agora se pôde ver com Rui Rio e com Nuno Morais Sarmento. É possível que alguma vez um qualquer destes dois nossos concidadãos tenha defendido esta ideia, mas eu não recordo. Como não recordo em nenhum dos comentadores do PSD que polvilham as nossas televisões.
Ora, quais são as razões para este pinote? Pois, em essência, três: o facto da pressão para que tal acontecimento venha a dar-se ir crescer nos próximos tempos; o da forte proximidade entre eleições legislativas e presidenciais; e a possibilidade, assim conseguida, de se criar uma futura coligação entre os dois maiores partidos. Simplesmente espetacular!
Quanto ao crescimento próximo da pressão para que essas eleições venham a ter lugar, pois, não duvido, porque essa pressão virá, isso sim, da grande comunicação social, hoje quase cabalmente dominada pelos grandes interesses. Mas ao nível da população o que se verifica hoje é um completo desinteresse pela vida política e pela generalidade das instituições, que nada fizeram, com exceção do Tribunal Constitucional, para fazer valer a Constituição da República.
A proximidade das eleições legislativas e das presidenciais é um argumento ridículo e inacreditável, porque as datas dessas eleições são conhecidas desde sempre, e também desde sempre o que prevaleceu foi a forma e o normativo geral.
Por fim, a possibilidade de se conseguir uma coligação entre os dois maiores partidos tem o seu quê de estranho, porque embora o PS tenha tido sempre como par de poder a direita, nunca a esquerda – veja-se a lamentável ideia de Seguro de diminuir o número de deputados para cento e oitenta e um, assim minimizando a representação parlamentar dos pequenos partidos –, uma tal posição pressuporia que o PS que sair das primárias irá continuar a sua saga autodestrutiva. Não sendo impossível, seria um verdadeiro suicídio histórico-político.
Sendo tudo isto assim, o que é que está aqui em causa? Bom, os subscritores desta ideia sabem que o PS, mesmo longe de uma maioria absoluta, será o partido mais votado. Isto determinará, em princípio – podem vir a enganar-se...– o afastamento de Pedro Passos Coelho da liderança do partido. Suceder-lhe-á, naturalmente, Rui Rio. Se no PS vier a vencer António Costa, num ápice surgirá – aí sim – a tal pressão – mormente da tal grande comunicação social – para uma coligação PS/PSD. Até porque PSD e CDS/PP, nos termos das recentes sondagens, mesmo sem conseguirem uma maioria absoluta, terão mais votos que o PS. Sobretudo, se concorrerem coligados, o que Paulo Portas já começou a preparar...
E, como pude já explicar por diversas vezes, uma tal coligação irá manter a destruição do Estado Social já conseguida. Uma realidade que só dificilmente poderia ter tido lugar se o Presidente da República tivesse sido alguém oriundo das esquerdas, e se Pedro Passos Coelho e o PSD – não esqueçamos o apoio de Soares a Pedro Passos Coelho, quando já se conheciam os objetivos reais do atual Primeiro-Ministro. Aliás, esse foi sempre o objetivo do PSD e do CDS/PP desde que Francisco Sá Carneiro liderou o seu partido.
É muito fácil, pois, compreender o que está aqui em jogo, sendo que compete aos eleitores tomar a correspondente decisão. Cá estaremos para ver os próximos pinotes destes nossos democratas. Até porque estão por aí a surgir potenciais partidos de todo o tipo e feitio, que bem podem vir a criar problemas ao PS... Como se vai podendo ver, Portugal acima de tudo.
