Palavras

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Tenho acompanhado com atenção a visita do Papa Francisco à Coreia do Sul, bem repleta de significado. Não esquecendo – palavras de Ana Sá Lopes no i – a aliança tácita da Igreja com o capitalismo, em que, com a exceção dos padres adeptos da Teologia da Libertação, aquela escolheu o capitalismo, [a verdade é que] a crise financeira apanhou a Igreja aos papéis, repetindo naturalmente o essencial da doutrina, mas [mostrando-se] incapaz de qualquer rutura com o sistema.

Como pude já referir diversas vezes, o exemplo português é, porventura, um dos mais referentes desta forte paralisia da Igreja Católica em face do decurso histórico. Sobretudo hoje, quando o caos e a incerteza estão omnipresentes no seio da nossa comunidade nacional, arrastando a um sofrimento que muitos nunca imaginaram poder atingir a nossa vida em sociedade.

Mais uma vez, Francisco I apelou aos sul-coreanos para combaterem o espírito de competição desenfreada, geradora de egoísmos e conflitos, e para rejeitarem modelos económicos desumanos. Advertiu mesmo para o que apelidou, com grande acerto, de cancro do desespero que aflige as sociedades materialistas do nosso tempo. E, estando certamente bem informado do que se passa na Coreia do Sul, onde a taxa de suicídio é das mais elevadas em todo o Mundo, apontou o horror da cultura da morte, que poderá surgir rapidamente nos ambientes desenvolvidos, onde os idosos, desempregados ou doentes poderão vir a descobrir-se como descartáveis. Eu mesmo, ao início da atual Maioria-Governo-Presidente, pude alertar um dos nossos cardeais para que esta seria uma realidade a curto ou médio prazo em Portugal.

Mas o Papa Francisco voltou a tocar aspetos da vida interna da Igreja Católica, sempre sensíveis: o do celibato e o do voto de pobreza dos sacerdotes. Quanto ao primeiro, pois, trata-se de um problema essencialmente ligado à organização interna da Igreja Católica, pelo que entendo não dever fazer comentários.

Já quanto ao segundo caso, ele é suscetível de uma chamada de atenção, porque essa vida materialmente rica de uma boa legião de sacerdotes nunca poderá ser desconhecida da hierarquia da Igreja Católica. Em última análise, do próprio Papa, seja Francisco I ou qualquer outro.

Se a orientação papal for no sentido de um exigência forte e persistente sobre a atitude do clero neste domínio, o exemplo passará logo a ser controlado sobre a própria Cúria e sobre a vida de bispos e cardeais, cada um dos quais, na respetiva diocese, deve operar exigências similares aos sacerdotas que dirige.

Por fim, o encontro de Francisco I com centena e meia de leigos católicos, a quem desafiou para uma ajuda aos pobres, esforçando-se para que todas as pessoas possam ter a dignidade de ganhar o pão e manter as suas famílias. Faltou, mais uma vez, uma palavra que mostre o horroroso caminho do Mundo capitalista, só com a fé do dinheiro e sem moral nem ética.

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