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| Hélio Bernardo Lopes |
Preferência alimentar variada, ele já com um grau de liberdade muito elevado, ela desejosa do parque, da piscina e do regresso dos pais, apesar de estar ali tão contente com a Vovó querida e com o brincalhão do Vovô, embora mais disciplinador, atento e prevenido. Mete-se e fala com todos e de tudo. Um pequeno curso de introdução ao terror gracioso.
Parei cabalmente com os meus textos, mas consegui ler dois livros e comentar outros três, de poesia, lidos pela minha mulher. Nunca tinha visto um só exemplar de SÓCRATES: O MENINO DE OURO DO PS, de Eduarda Maio, editado pel’A Esfera dos Livros. Li-o todo, embora com atenção na parte menos conhecida da vida do antigo Primeiro-Ministro, ligada às origens, família e percurso escolar até à sua chegada ao PS. Passei, pois, a saber mais sobre José Sócrates.
Muito mais interessante e útil foi a leitura de IRMÃOS – A História Oculta dos Anos Kennedy, de David Talbot, e editado pela Casa das Letras. Mesmo já conhecendo o horror da vida nos Estados Unidos, e desde sempre, ainda fiquei impressionado com o que ali nos conta o autor. É um livro que recomendo ao leitor, porque, no mínimo, ficará tão impressionado quanto eu. E muito mais esclarecido sobre a dita democracia americana e do que o que os reais poderes – CIA, FBI, Máfia, militares e poderosos do dinheiro – podem fazer. Por ali perceberá como Barack Obama, no sentido que logo compreenderá, vive uma situação similar à de John Kennedy.
Esta obra, por um acaso, havia sido antecipada da releitura da DE TRUMAN A REAGAN, de N. N. Iakovlev, editada pela Avante. Descontada a promoção da imagem da União Soviética – é muito fácil –, ela constitui um fantástico complemento da anterior, mostrando como gente militar e policial de extrema-direita, até religiosa, acaba por ser quem decide a política dos Estados Unidos e como oos Direitos Humanos foram ali quase sempre uma expressão sem significado. Uma obra a ler sem pestanejar.
Apesar de ter parado com a escrita dos meus textos, continuei a acompanhar a grande comunicação social. E dois foram os temas predominantes: o decaimento da crença na democracia e nas nossas instituições de hoje e a luta fratricida dentro do PS. Trato aqui apenas o primeiro caso, tendo em conta o que ouvi e os resultados do recente inquérito ao redor do que os portugueses pensam sobre o futuro das reformas, atuais ou futuras.
Ao dia-a-dia não encontrei uma pessoa conhecida que tivesse dito acreditar nos políticos de hoje. Nenhum se me queixou de estarem os políticos longe dos cidadãos, mas sim da sua falta de garantias enquanto políticos. As pessoas deixaram de acreditar no que é dito pelos políticos e, em boa verdade, nada ligam à política. É uma área completamente desacreditada.
Em contrapartida, encontrei uma boa legião de gente que salientou nunca ter acreditado que Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho acabassem por operar o que se tem podido ver. Não falta gente revoltada com o futuro que já perceberam ser o que as espera. E encontrei um dado novo: os que trabalham fora, de um modo muito geral, deixaram de passar férias na terra, sendo agora os velhotes que se deslocam às casas dos descendentes, em geral no litoral ou nas grandes cidades.
Um dado também presente, muito referido nas conversas correntes em Lisboa, é a impressão de que haveria uma alegria na classe política se os velhos desaparecessem por uma qualquer razão. O sentimento de abandono e de desprezo é hoje uma realidade nos mais velhos ou residentes no interior profundo do País. Sem estranheza, também ouvi de muita gente a ideia de que uma integração em Espanha, ou numa espécie de Ibéria, não seria mal recebida. Nem um daqueles a quem coloquei um tal cenário regateou a ideia.
Conhecendo os resultados eleitorais no concelho, e retirando o caso da eleição autárquica – o significado é completamente outro –, a verdade é que o PSD é ali, desde há muito, o partido mais votado. De molde que lá confrontava os amigos ou conhecidos com a escolha antes feita, e que, como sempre escrevi ou disse, viria a saldar-se num desastre político-social. Por tudo isto, é enormíssimo o preço que estão hoje a pagar pela desatenção política operada nos anteriores atos eleitorais.
