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Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Simplesmente, num ápice, a TVI deu a conhecer um curto comunicado da Procuradoria-Geral da República, (PGR), garantindo não ser o antigo Primeiro-Ministro arguido num qualquer processo e que não existiam, naquele momento, investigações sobre a sua pessoa. Ora, a este propósito, convém aqui dizer alguma coisa, de molde a tornar mais claro o que se passou.
Recuando uns bons anos, o leitor deverá recordar-se de uma pergunta feira a José Souto de Moura, ao tempo Procurador-Geral da República, e que lhe foi formulada por certa jornalista, e que era deste tipo: Carlos Cruz poderá não estar a ser investigado? Claro que as palavras não terão sido estas, mas o sentido era o aqui apresentado. E, tal como pude já escrever sobre o tema, José Souto de Moura respondeu com a verdade lógica: pode. E assim era, mesmo que Souto de Moura desconhecesse cabalmente o que estava a passar-se. De resto, e como por igual expliquei, a resposta seria a mesma se a pergunta tivesse sido feita ao contrário: Carlos Cruz poderá estar a ser investigado? Sem violar o segredo de justiça e respondendo de um modo verdadeiro, a resposta teria sido positiva: pode.
Ora, este mais recente comunicado da PGR é completamente distinto, porque esta assegura que José Sócrates não é arguido em processo algum e que sobre si não corre qualquer investigação. Tem de ser verdade, porque a PGR, como elevada magistratura que é, não pode mentir, mesmo que perseguindo um bem maior.
Acontece, como de há muito pude salientar, que há que ter o máximo cuidado com as notícias vindas a lume ao dia-a-dia, porque as mesmas podem situar-se a anos-luz da realidade. Entre outras razões, porque muitas dessas notícias podem ser fornecidas aos jornalistas por fontes tomadas por fidedignas, podendo não o ser.
Simplesmente, neste caso ora vindo a lume, o leitor tem de estar atento a esta sua possível reação: cá está, afinal é tudo mentira, seja do Sócrates, como agora se viu, seja sobre qualquer outro, mesmo que já constituído arguido. Trata-se, obviamente, de um raciocínio errado, mas que pode por aí ser desenvolvido por gente incauta. A notícia, se lida por incautos, pode relativizar o que está já adquirido ao redor de quem possa estar arguido num qualquer processo, seja o do Monte Branco ou outro.
É essencial que o leitor esteja atento e que perceba esta realidade simples e evidente desde há muito: deixou de poder acreditar-se em quase tudo o que se vê, ouve ou lê. É essencial atenção, silêncio e discernimento, porque de outro modo corre-se o risco de enfiar um barrete.
De molde que o deixo com esta pergunta, à semelhança de quanto já escrevi sobre o avião abatido na Ucrânia: quem poderá imaginar poder aproveitar com este erro de uma fonte de informação?