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| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Neste momento – quando escrevo este texto –, raros acreditarão que se venha a perceber, com clareza, o que foi todo este caso GES/BES. Ainda agora quase nada se conhece sobre tempos, reuniões, decisões, exigências, incumprimentos, mentiras, e o que mais surgir ao pensamento. Pior ainda: ninguém hoje acredita que tudo isto venha a ser realmente conhecido. E, no entanto, não faltaram intervenientes, entretanto deixados de se ouvir ou ver.
Um pouco inacreditavelmente, nós fomos assistindo a sucessivas garantias dadas pelo Presidente Cavaco Silva, pelo Governo e pelo Banco de Portugal, de que o BES era distinto do GES e que se encontrava bem e a bom recato do que pudesse vir a dar-se com o caso GES. Hoje, conhece-se já a realidade, tornando-se evidente que, uma quinzena antes do estrondo, o académico Francisco Louçã, no seu TABU, havia salientado ser quase certo que ali entrariam dinheiros públicos. Está aí a realidade bem à vista de todos.
E se é verdade que estivemos à beira de cair do fio da navalha para um precipício, como explicou Carlos Costa na Assembleia da República, a verdade é que acabou por deitar-se mão da criação de um banco limpo a colocar à disposição de quem o venha a comprar. E por que preço... Enfim, andam por aí, até bem visíveis, os bem falados riscos para os contribuintes. Já todos se deram conta. Adiou-se o problema, como muito bem explicou Francisco Louçã.
Mas há um dado que surgiu com a presença de Carlos Costa na Assembleia da República: a supervisão bancária talvez não seja o principal problema, sobretudo por não ser suscetível de boa aplicação com as condições que conduziram à crise e que se mantêm. O que Carlos Costa explicou foi que estas coisas só se vêm a conhecer quando ocorre uma rotura forte. A supervisão, afinal, vale pouco. E haverá, entre nós, punição digna desse nome? Bom, ninguém acredita.
O que Carlos Costa não disse – nem os políticos ligados ao PS, PSD ou CDS/PP – é que a atual ordem financeira internacional está viciada. Ela distribui lucros – é preciso que existam – pelos acionistas, mas impõe a recuperação dessas entidades, no caso de desastre, natural ou fraudulentamente provocado, por todos os cidadãos. É o tal sistema que mata...
Claro que Carlos Costa ou os detentores de soberania deste tempo não podem reconhecer certas realidades, como o imperativo de se iniciar uma extinção dos offshores, ou o de separar, de facto, a banca comercial da de investimento, ou taxar as transacções do setor financeiro, ou exigir a explicação da origem do que, de um modo evidentemente anormal, se possui e se não coaduna com o que se declara. Todos sabem que estes são passos essenciais, mas ninguém inicia o movimento básico para pôr as coisas na ordem.
Resta-nos esperar pelo próximo acontecimento desta já longa sucessão portuguesa: BCP, BPP, BPN, BANIF, GES, BES. Mas, entre amigos, até podem aceitar-se apostas simples e simpáticas, como jantaretes ou um bom livro. E sabe o leitor o que me surge agora no pensamento? Aquela velha canção que nos dava este refrão: É uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa!...
