Das palavras à realidade

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Numa viagem de avião do Papa Francisco, já de regresso ao Vaticano, este respondeu a perguntas diversas dos jornalistas que haviam coberto a sua viagem pastoral.

Um dos temas focados foi, naturalmente, o da presença de sacerdotes – e de níveis diversos – homossexuais no seio da estrutura vaticana. De um modo algo estranho, sem dúvida simplista, Francisco I salientou que cada um é como é, e que isso nada tem de mal – referiu não ser julgador de ninguém –, mas desde que não exista nesse ambiente uma ação de grupo ou de tipo proselitista.
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Mais tarde, até por diversas vezes, o Papa Francisco voltou a condenar qualquer atitude de marginalização de quem possa ser homossexual e se comporte como tal, desde que nos termos da legislação em vigor nos diversos Estados. Devo dizer, pelo meu lado, que nunca acreditei muito nesta argumentação, nem mesmo na resposta dada a bordo do avião de regresso a Roma.

Pois, há uns dois ou três dias atrás, eis que nos chegou uma notícia que veio ao encontro daquela minha impressão: o Bispado das Canárias despediu um professor por este se ter casado, há dois anos atrás, com um outro homem. Por ironia, o referido professor era-o de Religião e Moral Católica, sendo quase certo que nunca nas suas aulas terá apresentado as matérias em estudo fora das regras estabelecidas oficialmente pela Igreja Católica. Pois, a liderança do Bispado das Canárias pô-lo na rua sob o argumento de que já não é pessoa idónea. Mais concretamente: por motivos de doutrina e de moral, e ao abrigo do Direito Canónico, retira-se a idoneidade como professor de religião a Luís Alberto Gonzalez.

Acontece que este professor também havia sido sacerdote, mas tendo pedido a suspensão do exercício das ordens. E informou o Bispado das Canárias, há perto de um ano, de que havia casado, um ano antes, com um outro homem. Ou seja: esta decisão da Igreja Católica lançou-o no desemprego por ser homossexual e ter casado com um outro homem, nos termos da legislação em vigor em Espanha. Tudo, pois, ao contrário do que tem vindo a dizer o Papa Francisco.b

Igualmente interessantes foram as considerações de ontem do bispo António Marto, de Leiria-Fátima, com que condenou a selvajaria da atual cultura do dinheiro a qualquer custo, presente nos ambientes financeiros, nacionais e internacional. Escudou-se nas posições assumidas pelos Papas Bento XVI e Francisco, embora se deva salientar que nenhum destes dois Papas publicou uma encíclica sobre o desumano modelo neoliberal e sobre a globalização que o potencia e tem conduzido o Mundo e os seus povos ao desastre que diariamente se vai podendo ver.
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Mas se aqui o nosso bispo até teve razão – sem efeitos úteis, obviamente –, já no tocante à ideia do consenso entre as forças partidárias, que disse ser um imperativo para Portugal, foi de uma enorme infelicidade. Mas consenso em torno de quê? Será que o bispo António Marto ainda acredita que o conjunto vazio não é de considerar? Então, porque não estabelece a Igreja Católica um consenso com a Igrejas Ortodoxa, Anglicana, Luterana e outras? Pelos vistos, um tal consenso seria óptimo! Mas consenso em torno de quê?! Enfim, as coisas boas e más da vida e as desilusões que a mesmo nos trás a cada momento.

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