Chamem-me Joaquim...

Hélio bernardo Lopes
Escreve diariamente
Com a graça de Deus não nasci intelectualmente limitado, embora hoje, perante quanto se vai vendo, tenha pena de ter saído uma pessoa honesta. Portugal, infelizmente, não justifica uma tal posição, que acaba por ser, acima de tudo, uma limitação, mais que uma virtude. 

Mas vamos ao que aqui interessa. Há já muitos anos – os mais velhos deverão recordar-se bem da cena –, o então presidente do Vitória de Guimarães, Pimenta Machado, foi chamado ao Tribunal Central de Investigação Criminal, (TCIC), embora por algo que não recordo hoje. Sem um interesse ínfimo pelo futebol, estive atento, porém, à chegada e à saída daquele ao tribunal, que funcionava, então, no edifício da Boa Hora e era presidido por Maria de Fátima Mata-Mouros, hoje conselheira do Tribunal Constitucional. Simplesmente – é aqui que pretendo chegar –, aquela era a única juíza do TCIC, sendo que esta estrutura sempre funcionou bem com um só magistrado.

Mas o tempo passou, a grande criminalidade financeira foi-se instalando em Portugal, país onde, tradicionalmente, tudo é nada, e as autoridades judiciárias começaram a atingir os grandes tubarões do País. Hoje, como tem podido ver-se à saciedade, tiveram já lugar factos judiciais sobre alguns desses tubarões que eram, até há uns anos atrás, inimagináveis para a generalidade dos portugueses. Pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal, (DCIAP), e pelo TCIC foram passando os casos mais graves da sociedade portuguesa. Por sorte, o juiz que hoje ocupa o tal lugar onde em tempos esteve aquela magistrada, Carlos Alexandre, saiu uma pessoa honesta, que, por acaso, segue com rigor o magistério da Igreja Católica, e que aplica realmente a lei em vigor a quem quer que seja. Bom, está já a ser uma chatice, porque alguns tubarões da nossa praça foram já atingidos.

Carlos Alexandre contou-nos, há um tempo atrás, um ditado que costumava ser apontado em certos meios, a cuja luz, quando o dinheiro fala, a justiça cala. Ora, com ele, como pôde já ver-se, este ditado popular de certos meios nunca pegou, razão de quanto se tem podido a ver. E não é novo o que este juiz contou, porque há uns anos, numa entrevista à RTP 2, Fátima Campos Ferreira ouviu da juíza Conceição Oliveira uma história em tudo equivalente. Uma história que contou ali aos portugueses e sobre a qual nada mais veio a passar-se. A própria jornalista questionou a juíza sobre se não estaria a correr riscos ao contar tais factos.

À medida que todo o êxito funcional e judiciário do juiz Carlos Alexandre foi tendo lugar, fui-me questionando sobre que futuro lhe poderia estar a ser preparado. Com um Portugal moralmente podre, onde se percebe que a amostragem criminal ao nível de tubarões é algo que deverá ligar-se a um universo imensamente mais amplo, as sinetas de alarme teriam de vir a tocar. Pois, aí estão elas.

Depois da política de desvalorização da investigação judiciária, levada a cabo pelo atual Governo, e com o mui geral silêncio dos partidos da oposição, com especial ênfase para o PS e para as suas grandes figuras históricas, que simplesmente desapareceram, a verdade é que o juiz Carlos Alexandre nunca se deu por limitado em face dos meios de que dispunha. Além do mais, os resultados estão à vista de todos, que talvez nunca terão imaginado que fossem possíveis em Portugal.

Ora, no TCIC entraram, em 2010, dezoito processos. Destes, quinze foram concluídos, sendo três o número de processos pendentes. Simplesmente, dois destes têm já conclusão marcada. Dentro de três semanas, o TCIC ficará apenas com um processo. Perante esta conhecida e reconhecível realidade, o que fez agora o Governo? Pois, vai retirar ao juiz Carlos Alexandre metade dos grandes processos de corrupção e de grande criminalidade no Estado, nomeando um segundo juiz. Bom, caro leitor, por muito que qualquer um de nós use de boa moral e de boa-fé, a verdade é que a conclusão é sempre a mesma quando se fala desta realidade aqui exposta. E isto, caro leitor, é que é a democracia em Portugal.

Por tudo isto volto a sugerir que procure ler o discurso de Salazar, no Porto, em Janeiro de 1949, porque em menos de quatro páginas encontrará o que hoje lhe vai chegando diariamente. E também sugiro a leitura do DEPOIMENTO, de Marcelo Caetano, onde este conta que chamou os banqueiros, dizendo-lhes que teriam de comprar os principais jornais do tempo, de molde a poder criar uma lei de imprensa e pôr um fim (aparente) na censura.

E depois olhe o que se passa hoje em Portugal e tire as suas conclusões. Por fim, uma pergunta: alguma vez ouviu falar na Adega Monte Branco? E, se acaso ouviu, imaginou que esta adega tinha algo que ver com a operação Monte Branco? E ocorreu-lhe que aquela adega está ligada ao Monte Branco, situado no meio da Europa?

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