Uma conversa estranha

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
De um modo que foi para mim verdadeiramente inesperado, aí nos surgiram os ecos de mais uma entrevista – ou simples conversa? – do Para Francisco ao La Reppublica, na pessoa do seu fundador, Eugenio Scalfari. Como todos naturalmente haverão de convir, uma tal entrevista teria de ser escrita ou gravada, porventura, por via de um filme que a cobrisse por completo. 

Contra toda a lógica, eis que agora nos chegou a notícia, depois de revelado o conteúdo da entrevista, de que este teria uma imensidão de erros e de inexatidões. Ou seja: uma estranhíssima entrevista, ou conversa.

Devo dizer, aliás, que nem me custa acreditar que à mesma ninguém mais tenha assistido, para lá de Francisco I e de Scalfari. Como se torna evidente, nenhum líder de Estado aceitaria dar uma entrevista em tais condições. Simplesmente, há que ter em conta, no mínimo, dois dados essenciais. Por um lado, o Papa Francisco conhece tudo isto muito bem. Por outro, não é concebível que Eugenio Scalfari seja um mentiroso, ou um caluniador ou um mentecapto, incapaz de perceber uma conversa e de a reproduzir.

Por tudo isto, a menos que o La Reppublica, ou Scalfari, venham reconhecer o seu erro, há que dar crédito ao que surgiu sobre a entrevista. Ou conversa. E o que aqui chegou é que foi exposto ao Papa Francisco que o ambiente pedófilo ao nível dos sacerdotes rondará os dois pontos percentuais. E, no dizer do jornal, Francisco I terá mesmo referido existirem naquele conjunto também bispos e cardeais, o que nada tem de estranho ou de inverosímil.

Diz agora a cúria vaticana que não esperava que tal conversa fosse publicada, mas a verdade é que à mesma não terá sido exigida a garantia de que dela nada transpiraria. O percurso de vida de Eugenio Scalfari não sustenta a violação desta regra. Nem tais revelações são hoje consideradas coisa estranha ou inesperada.

Desta estranha entrevista – ou simples conversa? – retiro esta conclusão: tudo deve ter-se passado como relatado pelo La Reppublica, mas em condições de poder ser desmentido. A fé, pela natureza humana e do problema, não sai nunca abalada e o Mundo passa a conhecer, graças a este meio artificoso, por via de palavras atribuídas ao Papa Francisco, o mínimo das realidades ali tratadas na conversa: pedofilia, máfia e celibato.

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