Que é feito dos históricos?

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Desde que o PSD de Pedro Passos Coelho se transformou no partido mais votado nas anteriores eleições para deputados à Assembleia da República – nunca esquecer o apoio de Mário Soares ao jovem simpático, com quem se podia dialogar...–, que se percebeu que, suportado no apoio do CDS/PP e com a plena aceitação do Presidente Cavaco Silva – não esquecer o discurso da sua primeira tomada de posse –, o Estado Social iria ter o seu fim. E foi o que se tem podido ver à saciedade, embora ainda não se tenha atingido o máximo que irá aparecer até às eleições do ano próximo.

No entretanto, na passada sexta-feira, Francisco Louçã trouxe ao conhecimento dos mais distraídos o que está a ser negociado, às escondidas – na Embaixada da Austrália em Genebra –, entre a União Europeia e os Estados Unidos e que terá como consequência uma verdadeira transformação da vida dos cidadãos europeus: vem aí, no que resta do presente século, uma nova forma de exploração escravizadora.

No meio de tudo isto, ao longo de anos, os históricos do PS mantiveram-se generalizadamente silenciosos. E mesmo agora, depois das revelações de Francisco Louçã na passada sexta-feira, desses históricos, bom, nem uma palavra. Sem um espanto razoável para os mais atentos, a grande preocupação dos históricos do PS é conseguir uma maioria absoluta nas próximas eleições para deputados à Assembleia da República, que é uma realidade que não voltará a ter lugar, uma vez que aos políticos do PS continua a faltar a clareza que os portugueses desejam.

Ora, neste passado domingo foi possível ouvir António José Seguro assegurar, e já pela segunda vez, que reporá os montantes retirados aos portugueses no âmbito da intervenção política da atual Maioria-Governo-Presidente. Não sendo a primeira vez em que dá esta garantia, ela foi a mais clara e a mais explícita. Simplesmente, dos históricos do PS, nada. Que é feito da voz de António Arnaut, que nos criou o Serviço Nacional de Saúde universal e gratuito e que até ameaçou que sairia do PS se este nada fizesse para parar uma tal onda destruidora, que até começara com António Correia de Campos?

Hoje, é já simples compreender o que esteve em jogo nas anteriores eleições para a Assembleia da República e que eu logo referi, ao tempo, em textos meus: os históricos do PS desistiram de defender o Estado Social, mas não poderia ser o PS a pôr-lhe um fim. Tornando-se essencial manter o valor de aparência da nossa falida democracia, teria de ser a direita a fazer o que sempre havia desejado desde a votação da Constituição de 1976. Depois, o PS surgiria a reivindicar a paternidade do Estado Social, mas apontando o dedo ao PSD e ao CDS/PP, esperando que os eleitores voltassem a devolver-lhe o poder. Diria, então, que reconstruir é muito mais difícil que destruir, como já José Sócrates referiu numa das suas intervenções dominicais.

Pois, aí têm agora os portugueses esta recente garantia do PS de Seguro, ao redor de um ato de verdadeira justiça, e que é a garantia de que devolverá aos portugueses o que a atual Maioria-Governo-Presidente lhes retirou através dos mil e um cortes, com esse ou com outro nome.

Sem espanto, eis que o que sobreveio dos históricos do PS foi o silêncio... E dos jornalistas, bom, nem uma palavrinha, tal como também com as revelações de Francisco Louçã. Se se olhar com atenção, tal constitui-se numa verdadeira prova de noves sobre o que logo escrevi ao tempo das anteriores eleições de deputados e aqui voltei a referir. É caso para se dizer: só não percebe quem não quer...

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