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| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Ora, o quarto tema colocado por Alfredo Barroso prende-se com a futura posição do PS quanto à política de alianças, que todo o partido democrático que se preze tem a obrigação de avaliar, debater e definir com clareza, e, naturalmente, com flexibilidade. Logo admitindo que o PS possa não obter uma maioria absoluta – é o que terá lugar –, Alfredo questiona-se sobre se o PS preferirá fazer uma aliança com qualquer dos partidos que estão no Governo e que, desde há três anos, só têm empobrecido os portugueses e arruinado o País, ou considerará seriamente a possibilidade de tentar chegar a uma plataforma mínima de entendimento – não necessariamente a uma coligação pós-eleitoral – com os outros partidos de esquerda (BE e/ou PCP) que viabilize uma solução de governo verdadeiramente alternativa e sustentável.
Como se percebe, tudo isto é retórica, porque Carlos César já vem dizendo desde há uns dias a esta parte que não lhe repugna um novo Bloco Central. Ou seja, o PS, se António Costa sair vencedor da atual peleja, é para aí que se voltará. Quem não o fez até agora foi António José Seguro, como se conhece à saciedade. De resto, esta foi sempre a tradição do PS desde a Revolução de Abril: virar-se para a direita.
Mas António Costa foi já mais claro, garantindo que o PS não pisca à direita nem à esquerda, preferindo um partido virado para todos os portugueses. Simplesmente, e como Alfredo Barroso facilmente percebe, aliar-se à atual direita será manter uma postura política de bengala dessa direita – foi o que se deu desde 1974 –, mesmo que venha a ser o partido mais votado em 2015. O que o PS vai fazer, depois de 2015, é o que sempre fez desde a Revolução dos Cravos: aliar-se à direita. Ou seja, a pobreza, a miséria, o desemprego e a emigração vão continuar. E – quem sabe? – talvez se venha a pôr, nessas circunstâncias, o tão desejado fim na Constituição de 1976, sempre pedido pela direita.
Note-se, a este propósito, como Eduardo Marçal Grilo, também dito como da área do PS – ou seja, o tudo em nada –, já admite como coisa natural a emigração, verdadeiro horror saído da pena do atual Primeiro-Ministro. Uma autêntica ponte para que o PS que aí poderá vir passe a olhar de um modo diametralmente oposto o que a atual Maioria-Governo-Presidente tem vindo a aplicar.
Contrariamente ao que se vem apregoando, os históricos do PS de há muito pretendiam pôr um fim na Constituição de 1976, entrando de armas e bagagens para a vida político-económica neoliberal. Querendo fazê-lo mas não podendo dizê-lo, foram-no, porém, fazendo de um modo lento, em ordem a não potenciar grandes reações. Simplesmente, foram ultrapassados por todos os lados, desde Belém às bancadas de S. Bento, do jornalismo à banca, dos trabalhadores aos patrões. Hoje, o PS é um partido só e sem propostas, dadas as suas ligações aos grandes interesses. No fundo, um figurante político de segunda neste jogo de sombras. A ideia inicial, completamente errada, era esta: deixava-se o PSD e o CDS/PP destruir o Estado Social, e o PS surgiria depois para capitalizar o descontentamento.
A verdade é que venceram, ainda assim, duas eleições e preparavam-se para vencer a terceira, embora apenas com maioria simples. O problema é que António José Seguro já não dispunha de condições para dar o dito por não dito. Em boa verdade, o efeito seria o que agora já se percebeu: um desastre, precisamente lavrado pelos históricos do PS desde o início deste Governo, mas que falhou. E a razão é simples: há desemprego, fome e miséria e os portugueses querem o que, ilegitimamente – as razões ideológicas da direita de abril –, lhes foi tirado.
Note o leitor que o PS foi a principal força política portuguesa que arrastou Portugal para a barafunda europeia, por cuja via se perdeu a independência do País e se acabou por pôr em causa o valor da democracia. Sendo a ideia da Europa um dos mais extraordinários movimentos humanistas da História, como há dias referiu José Narciso da Cunha Rodrigues, a verdade, que também ele reconheceu, é que se opera hoje a desconstrução dos direitos no seu seio.
Simplesmente, teria de ser assim, no mínimo, pelas razões que expliquei a um dos primeiros eurodeputados, a um académico do Direito e a um alto magistrado. Ainda não estávamos na Europa, mas, conhecendo a História, era fácil perceber o sistema de incompatibilidades a que iria chegar-se.
Hoje, a situação política portuguesa é a de um autêntico pântano. A democracia perdeu quase todo o significado, e perderá ainda mais com a nova réplica do Bloco Central da Miséria. A União Europeia, podendo ter sido um sonho humanista – e também uma jogada religiosa...–, perdeu toda a sua credibilidade, porque para lá dela estão os Estados, com tudo o que a História e os seus séculos lhes impôs. As coisas são como são e de há muito que se conhece o suficiente para se saber os terrenos que deviam ser evitados... Ao hipotecar os seus valores ao longo destas quatro décadas, o PS deitou para o cesto da política o valor e o significado da democracia e ajudou a criar o pântano que está aí e a crescer rapidamente.
