O ensaio de uma subtileza

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Desde há uns três dias a esta parte que a nossa grande comunicação social, sobretudo as televisões, nos deram a conhecer algumas personalidades a darem-se ares de compreender que poderá ter existido um erro por parte dos rebeldes ucranianos pró-russos, que teriam feito uma confusão: sendo uma tragédia, não teria sido intencional, antes o fruto de algum amadorismo.

Já expliquei, e bem bastamente, que se trata aqui de uma mensagem subliminar, porque os desprevenidos que ouvem estas considerações poderão embarcar na ideia que se pretende passar: teriam sido os rebeldes, mas com meios postos à sua disposição pelas autoridades militares – e políticas, claro – russas. Ou seja: teriam, deste modo, sido os russos...

Se esta ideia passasse, o que ela transmite são duas coisas: os rebeldes não tiveram intenção na tragédia e eram inexperientes; os russos teriam cometido o gravíssimo erro de colocar nas mãos de tal gente um meio tão sofisticado e perigoso. Ou seja: verdadeiramente, só existiriam uns culpados, os russos, muito em especial o seu poder político – Putin sempre à frente, que é quem pretende revigorar a Rússia – e militar. Bom, caro leitor, nem um sistema de equações lineares de matriz quadrada de ordem três é tão simples de compreender...

Ora, de onde provém esta ideia? Pois, da secreta norte-americana. Simplesmente, ela não pode provar uma tal afirmação. Recordando a nossa operação Mar Verde, logo no dia imediato o então Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, garantiu ao Mundo que Portugal, com as suas Forças Armadas, nada tinham que ver com o assalto à capital da República da Guiné. E Otelo, já pelo meio de 1975, em entrevista ao Expresso, lá garantiu que o massacre de Wiriamu fora perpetrado pela Direção-Geral de Segurança, sendo logo desmentido, em Londres, pelo padre Hastings. É sempre assim. O que significa que nunca se pode embarcar neste tipo de explicações, porque elas são sempre deste tipo.

Neste caso, tal como no que teve lugar com Ali Agca na Praça de S. Pedro, o caminho que deve seguir-se é o de procurar a quem serve um acontecimento dessa natureza. Não seria Salazar que teria interesse no homicídio de Humberto Delgado. Nem mesmo os comunistas. E também não era a antiga União Soviética que teria interesse no que teve lugar com Ali Agca. E é por ser assim que, neste caso, também a Rússia seria sempre a visada pela grande comunicação social ocidental. Os seus jornalistas, invariavelmente, não pensam, apenas obedecem (às secretas norte-americanas).

Ao mesmo tempo, a referida secreta norte-americana, sem mais delongas, de pronto nos dá esta explicação e que é um autêntico miminho: a explicação da Rússia sobre a catástrofe, que sugere a responsabilidade da Ucrânia, não faz qualquer sentido.

É o tipo de conversa a que costumo responder deste modo: ah, pronto, sendo assim, está bem! Tal como há dias expliquei, nenhum político capaz – e Vladimir Putin é-o claramente – autoriza que se passem para as mãos de rebeldes mais ou menos amadores, talvez mesmo com infiltrados no seu seio – naquela zona é um dado certo –, certamente já destreinados, armas como as do tal sistema BUC.

E porquê? Porque seria uma decisão com começo conhecido, mas com consequências imprevisíveis. E esta é que é a premissa fundamental para se concluir sobre este caso do avião da Ucrânia. Por tudo isto, repito o que para mim sempre foi evidente: o avião, com elevada probabilidade, foi abatido por militares ucranianos, suportados no apoio das suas marionetas políticas ao serviço dos Estados Unidos.

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