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| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Neste sentido, foram dados passos muito significativos, como o do desmantelamento da antiga Jugoslávia, conseguido por ação da Croácia – já assim se dera na II Guerra Mundial, com o apoio desta ao III Reich –, suportada num apoio mais ou menos aberto da Alemanha e do Vaticano. É um tema sobre que vale por todas as leituras a obra de referência histórica de Carlos Santos Pereira. Aos poucos, a nova Rússia foi sendo corrompida, e sempre, naturalmente, por via da ação dos grandes bancos ocidentais.
Até Matos Correia já acha que nós temos chatices com a banca em demasia! De há muito venho escrevendo o que a cultura popular de há muito consagrou: o hábito não faz o monge. Nós mesmos – Portugal – temos vindo a ser vítimas do não reconhecimento prático desta realidade omnipresente, sempre crentes de que, com ligeiras mudanças técnico-constitucionais, poderemos ser como os melhores. Quarenta anos depois da Revolução de 25 de Abril, pois, estamos na miséria e num beco sem saída. Mas vamos ao caso do avião há dias abatido.
Tal como se deu com o homicídio de Humberto Delgado, em que Salazar era aquele a quem tal menos convinha, ou o com os disparos de Ali Agca na Praça de S. Pedro, em que a União Soviética era a entidade menos interessada em tal realidade, também neste caso do avião de Donetsk a Rússia de Putin era a que não tinha um infinitésimo de interesse em tal tragédia. Um pouco à semelhança da balbúrdia hoje reinante no seio do PS, em que a direita se mostra feliz, também no caso desta tragédia é o Ocidente que procura capitalizar com o que se passou. O que significa, obviamente, que não foi a Rússia que operou o tal disparo de um míssil. E terá sido um míssil ou, por exemplo, uma bomba colocada a bordo do avião, a rebentar sobre aquela zona onde se deu a tragédia?
Simplesmente, o que hoje se joga no caso ucraniano não se reduz a uma questão meramente territorial. Sendo-o também, o que está essencialmente em causa é o fator religioso, com a luta do Ocidente, em geral católico, em favor da conversão a si dos ortodoxos. É, como pude já explicar, uma querela muito antiga e com muitíssimo mais importância que as questões luterana ou anglicana. Sendo esta a inquestionável realidade e perante o que se conhece da História do Século XX – recordemos, por exemplo, a estratégia de tensão, levada a cabo nas cidades europeias pela OTAN e pela CIA e com o pleno silêncio católico –, o mais provável é ter esta desgraça sido perpetrada por gente ligada ao novo Governo da Ucrânia, certamente apoiada aí pelos falcões norte-americanos e alemães.
É claro que pode ter sido um engano dos rebeldes contra Kiev, mas é menos provável que a hipótese de uma iniciativa ucraniana, suportada, no plano político e estratégico, pelos Estados Unidos e pela Alemanha. É essencial perceber-se que tudo isto está a ter lugar num tempo em que o dito socialismo democrático – nunca existiu – já viu o seu fim, com a generalidade dos povos da União Europeia a serem conduzidos completamente à revelia dos direitos naturais dos seus povos.
E, tal como pude já escrever, uma coisa são as palavras de contundência aparente do Papa Francisco – são completamente ineficazes –, outra a realidade vivida ao dia-a-dia. De facto, o que o Papa Francisco faz (e vai continuar a fazer) é defender a dignidade humana, cada dia mais inevitavelmente espezinhada por um sistema neoliberal e por uma globalização que, em boa verdade, nunca aponta como causadora da desgraça humana deste século.
Devo dizer ao leitor que compreendo uma reação estranha de alguém, naturalmente desprevenido, em face do que aqui explico. Mas essa estranheza deve-se, apenas, a um menor contacto com tais realidades. Há, até, um filme histórico em que Churchill recusa informar a população inglesa de certa povoação que ia ser bombardeada pelos alemães, o que constituía um crime por si perpetrado – não informar a população. Simplesmente, Churchill explicou que se o fizesse, a população sairia da povoação, o que indicaria aos alemães que os seus códigos da ENIGMA já eram conhecidos dos Aliados.
Como também já salientei por diversas vezes, o Estado é sempre totalitário. E até mesmo sendo democrático. Por isso Marcelo Caetano, um dia, numa das suas CONVERSAS EM FAMÍLIA, salientou que lá na velha e democrática Inglaterra, sempre que o interesse superior do Estado está em causa, logo isso dos Direitos Humanos deixa de ser o mais importante. Se o leitor ler a História da Itália depois de 1945, ou a da política externa e interna dos Estados Unidos no mesmo período, facilmente perceberá quão verdadeiras eram as palavras de Caetano.
É essencial que os portugueses não se deixem levar pelas cantilenas que vêm surgindo nos nossos canais televisivos, procurando responder à causa desta questão muito elementar: a quem é que está a aproveitar esta tragédia? E a mais esta: quando os Estados Unidos ou Israel fizeram o mesmo, as nossas televisões mostraram-se tão tristonhas como agora se nos dão a ver? Portanto,...
