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| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Ora, eu tenho vindo a sedimentar meia dúzia de impressões ao redor do Papa Francisco e da Igreja Católica que encima. Como se tem podido ver e ouvir, Francisco I diz o (aparentemente) inimaginável num Papa da Igreja Católica. Mas tal não recebe um infinitésimo de eco ao nível das correspondentes estruturas nacionais, como pode ver-se em Portugal à saciedade, onde a Igreja Católica vem sendo um dos pilares em que se vem suportando a política da atual Maioria-Governo-Presidente.
Claro que eu compreendo muitíssimo bem esta atitude em Portugal, porque o carreamento de dinheiro para as instituições de apoio social, praticamente sem qualquer controlo, se tem constituído numa verdadeira ponta de cheia. E não se pense que esta minha ideia é de hoje, porque isto mesmo disse eu a uma falecido amigo meu que era provedor da Santa Casa da Misericórdia de Almeida, ao redor do desejo da Igreja vir a dirigir as misericórdias.
Nessa nossa conversa expliquei-lhe que estaria para vir uma enorme onda de pobreza e de miséria – e por todo o lado –, e que a Igreja precisava de alardear uma (suposta) grande intervenção. Estava-se, ainda, no tempo de José Sócrates e com Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD. E salientei-lhe, por igual, que possuir as misericórdias se constituía numa autêntica mina. Foi esta conversa que determinou o meu texto, A MINA.
Hoje, se o leitor se mostrar objetivo e desapaixonado, facilmente reconhecerá que as palavras do Papa Francisco, sendo inusuais num Papa e muito verdadeiras – até contundentes –, de pronto se ficam por uma ligeira conversa no dia seguinte. No seio da sociedade portuguesa, por exemplo, tudo se mantém, ou mesmo piora, sendo que os grandes arautos leigos da Igreja Católica vivem a anos-luz das críticas operadas pelo Papa Francisco. Nem mesmo o vêem assim com olhos mui razoáveis.
Tudo vai sendo privatizado, decresce a qualidade dos bens produzidos ou servidos, aumentam os preços correspondentes, vão diminuindo drasticamente os Direitos Humanos, cresce o desemprego por toda a parte, o Direito deixou de ter aplicação universal, porque simplesmente não é possível aplicá-lo se quem detém o poder não o quer fazer funcionar, a grande criminalidade organizada transnacional vai-se mostrando imparável e...o Papa Francisco vai continuando a expor o seu excelente mas inconsequente pensamento sobre a dignidade humana.
Nesta mais recente intervenção do Papa Francisco, este recebeu no Vaticano algumas das vítimas de pedofilia por parte de sacerdotes católicos, pedindo-lhes o seu perdão para com a Igreja e os seus falhanços em matéria de resposta às queixas apresentadas sobre tais casos, mas que não foram atendidas capazmente.
Como qualquer pessoa minimamente pensante perceberá, os casos de pedofilia que têm vindo a lume foram sempre do conhecimento da hierarquia da Igreja Católica. Teria de ser assim, dado que a estrutura da sua organização sempre terá propiciado tais situações, mesmo ao nível interno, fosse de seminários, menores ou maiores, fosse de colégios. Não colocar, logo à partida, uma tal possibilidade, seria uma completa incompetência, que é algo impossível.
Um dado é aqui certo: pouco ou nada nos é dado ver em matéria de julgamento público sobre tais casos, se excetuarmos o caso norte-americano. Porque de pouco serve expulsar padres do exercício das ordens, se esse ato não for acompanhado da correspondente sanção em juízo. Ora, esta é uma realidade de que quase se não vai tendo conhecimento.
No fundo, as coisas acabarão por ficar-se nas meias tintas, ou em pedidos de perdão que, malgrado serem sinceros, nunca obviarão à repetição dos casos que terão sido de sempre. É pouco. É mesmo muito pouco. No entretanto, o Mundo e os seus povos, sujeitos à máquina neoliberal e globalizadora, vão continuando a sofrer, agora já nas vésperas de uma nova escravatura.
E se é verdade que esta economia mata, que efeitos tiveram tais palavras? Nenhuns! Quase com toda a certeza, nenhum dos nossos bispos disse até agora que o caminho que está a ser seguido entre nós faz o que se vê: mata. Há que ir estando atento...
