![]() |
Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Lá longe, porém, eis que na França da grande revolução libertadora o ex-presidente Sarkozy voltou a ser importunado pela Justiça do seu país. Desta vez – pasme-se! – por alegado financiamento irregular da sua campanha eleitoral de 2007, na qual foi eleito presidente da república. Como pode o leitor ver, aqueles magistrados franceses deverão ser, por igual, uns malandrões...
Ora, qual é, então, a suspeita em concreto? Bom, a de que Sarkozy poderá ter utilizado um esquema de faturas falsas para imputar à sua UNIÃO POR UM MOVIMENTO POPULAR gastos tidos como da sua campanha eleitoral. O leitor já imaginou o que se não diria em Portugal se um tal cenário tivesse aqui lugar? Olhe que é muito fácil perceber-se o que logo teria lugar, com debates vitimizadores ao redor do visado ao ritmo do dia sim, dia sim.
Simplesmente, os nossos analistas de serviço fingem não perceber que todos estes casos que vêm varrendo o ambiente financeiro – não só – são a natural consequência da globalização e do neoliberalismo. Acham o Papa Francisco magnífico, embora continuem a viver nos antípodas do que semanalmente vai dizendo do atual péssimo estado moral do Mundo. Nem sequer procuram fazer contas simples, olhando para o cenário português, onde já se vai no conjunto {BCP, BPP, BPN, BANIF, GES/BES}. Pelo menos. Para estes nossos concidadãos analistas, que vão polvilhando as nossas televisões, uma tal amostra, com a sua variabilidade interna, e em face do universo português em causa, nada significa. Uma amostra mínima, claro está...
Além do mais, estes nossos concidadãos analistas, sempre prontos a defender tubarões arguidos, nem se lembraram de salientar esta mais recente decisão do Supremo Tribunal de Justiça, onde se recusaram os recursos apresentados por José Oliveira Costa e outros arguidos ao redor dos pedidos do Ministério Público de quebra de sigilo profissional de testemunhas no processo principal do BPN. A notícia surgiu num qualquer jornal, mas nada de debates sobre o tema. Mais uns tempos, e lá surgirá a mais que expectával campanha contra os juízes conselheiros.
No meio de tudo isto, e deitando por terra a experiência constitucional norte-americana em matéria de independência dos Tribunais – aqui num sentido muito amplo –, aí está mais uma fantástica baralhada à portuguesa e sobre que se não escutaram ainda palavras dos nossos políticos da atual oposição, muito em especial do PS. Refiro-me ao problema da diferença de vencimento dos procuradores, conforme atuem nos Tribunais ou no domínio da investigação.
Cheia de razão, Maria José Morgada já nos explicou que, em cinco anos, e talvez não exista quem queira dedicar o seu tempo e criar a sua experiência no domínio da criminalidade organizada. E, como se percebe, a ser assim, de facto, o que o Governo faz é desvalorizar a investigação criminal. Um verdadeiro desastre político-constitucional, se olharmos o panorama atual da nossa sociedade. E tem razão quando conclui: de acusações de vadios, bêbados, sem-abrigo, passadores de droga, toxicodependentes, africanos, romenos, gente sem eira nem beira, roubos e tráficos de drogas, uns gamanços baixinhos, ninguém conseguindo, na prática – nem desejará – investigar a grande corrupção, o crime económico-financeiro, o crime grave e organizado. A evidência!
Em resumo: muito para lá de Portugal, não faltam malandros por esse Mundo fora, sempre a perseguir gente ligada ao ambiente dos negócios, seja banca, seguros, ou mil e um outros, e tudo, sempre, por inveja ou preconceito. Pasme o leitor nesta coisa simples: o Mundo de vento em popa, as pessoas com as suas exigências naturais cabalmente asseguradas, e só porque uns quantos vivem à grande e lá se vão enganando uma vez por outra, toca de passar à sua perseguição. É uma malandragem, esta gente que por aí anda a fazer vida de analista criminal, de acusador, de pronunciador ou de julgador. Uma malandragem!