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| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Foram duas entrevistas de extensão e qualidade diametralmente opostas, de facto separadas por um verdadeiro abismo: incomensuravelmente superior e muitíssimo mais precisa e lógica a de Mendes Dias que a de Almeida Tomé. Vejamos um pouco de que nelas foi referido.
Assim, António Almeida Tomé explicou que se tratou de um ato intencional, o que pode perfeitamente aceitar-se. Simplesmente, explicando que quem disparou o míssil sabia que o avião provinha do Oeste da Ucrânia, onde não existe guerra, concluiu que teria de saber que se tratava de um avião civil. E então concluiu desta maneira: pretendia-se internacionalizar a questão da guerra ora em curso!!
Bom, caro leitor, fiquei espantado. Porque se vinha do Oeste, talvez pudesse estar ligado às novas autoridades ucranianas, que chegaram ao poder depois do golpe que derrubou o líder eleito que presidia na Ucrânia. Além do mais, pretender-se internacionalizar o problema porquê? Será que essa internacionalização viria a servir a Rússia, ou os rebeldes do Leste da Ucrânia? Claro que não! Serviria, isso sim, os adversários da Rússia, tal como expliquei no meu texto de ontem.
Em contrapartida, Mendes Dias também defendeu a intencionalidade do abate do avião, mas assegurou que as armas em causa também fazem parte do arsenal militar da Ucrânia. E referiu, com plena evidência, que, a terem sido os rebeldes a disparar o míssil, depois de terem constatado o erro o que se esperaria seria o silêncio e não estar a fazer peregrinar uma conversa que todos poderiam apanhar.
De igual modo, Mendes Dias interrogou-se: isto serviria a Rússia ou os rebeldes? E respondeu não ver como. Precisamente o que ontem expliquei no meu texto sobre o tema. Ou seja – Mendes Dias já não podia chegar a este ponto –, a quem mais interessava esta tragédia era ao poder hoje em Kiev, porque eles sabem bem que terão de morrer muitos para recuperar a região em que a guerra está a decorrer.
Concluo daqui, pois, e tal como ontem escrevi, que o mais provável é terem sido as autoridades ucranianas a derrubar o avião, de molde a criar dificuldades diplomáticas e políticas a Moscovo e aos separatistas. E depois aquelas imagens de um qualquer camião a movimentar-se por entre árvores, logo apresentado como já não levando o míssil!... Bom, caro leitor, a mentira requer algum bom senso e um pouco de atenção. São imagens que nada provam, tal como as supostas conversas, e que acabam sempre por levantar a dúvida sobre a sua real autoria...
Um dado é certo: nem os separatistas nem os russos tinham um ínfimo de interesse nesta tragédia. Quem o tinha eram os políticos da Ucrânia, sabedores de que a propaganda ocidental iria cair sobre os separatistas e sobre os russos. O tempo de antena já atribuído a esta tragédia terá já ultrapassado em alguns milhares por cento o dado pelas televisões ocidentais aos casos do abate do avião iraniano pelos Estados Unidos, ou do líbio por Israel. Dois casos em que não teve lugar nenhuma comissão de inquérito, nem esteve presente a OSCE. A farsa requer arte e bom senso...
