Ainda a intervenção do Papa Francisco

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Ainda ontem escrevi sobre as mais recentes palavras do Papa Francisco, pedindo perdão pela falta de reação de muitos bispos católicos perante queixas de abusos sexuais diversos, praticados por padres católicos, e já hoje me vejo obrigado a aproveitar uma notícia de ontem mesmo, surgida logo na primeira página de um grande diário nacional.

Refiro-me à noticiada reforma que irá ser recebida por um nosso banqueiro, e que se apontava como sendo superior a novecentos mil euros por ano. Claro está que eu, tal como todos os que leram a referida notícia, só conheço esta mesma e não, como é evidente, o seu valor de verdade. Simplesmente, eu tenho uma tremenda dificuldade em aceitar que um jornal com a dimensão de leitura como o que está em causa possa, sem mais, publicar um tal número, seja ele verdadeiro, meio verdadeiro ou mesmo falso. Aceito que possa existir um erro, mas com um valor residual face ao noticiado. Assim, acredito, pois, na notícia em causa.

Também não discuto a legalidade de tal montante, mas vejo-me na obrigação de medir este valor com a realidade que hoje se vive no seio da sociedade portuguesa e de um modo que é muito geral. Essa realidade é a do desemprego, emigração, pobreza, miséria, limitação profunda no acesso a bens absolutamente essenciais, e logo a começar com os que se prendem com a saúde, a justiça, o ensino e a manutenção das pensões auferidas através do regime contributivo. No sentido que se compreende, um tal montante constitui-se num autêntico atentado à pobreza. E é aqui que volto às palavras que Francisco I desde o início vem proferindo.

Aqui tem o leitor como as palavras do Papa Francisco têm, de facto, um impacto ínfimo. O mesmo não aconteceria se os bispos católicos portugueses se pronunciassem como o vem fazendo Francisco I. O seu impacto seria incomensuravelmente maior, para lá de logo se verem apoiados pelo próprio Papa Francisco se, por um acaso, alguma reação dos criticados tivesse lugar. Infelizmente, e completamente dentro do que seria de esperar, os nossos bispos fecham-se em copas neste tipo de casos.

Este caso, dentro de uma miríade de outros e por toda a parte do Mundo, mostra como a Igreja Católica, de facto, acaba por, plasticamente, se adaptar a todas as situações. Desde há muito que venho chamando a atenção para o erro de análise de muitos dos nossos comentadores, que logo atribuem às palavras do Papa Francisco um alcance que realmente não têm. O Papa Francisco fala para o Mundo, que lhe é distante, mas que vive dominado por maleitas típicas do que é local. Infelizmente, a Igreja Católica nacional, regional ou local, vive acomodada à realidade concreta em que está mergulhada, acabando por não assumir as tomadas de posição ética do Papa.

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