A falsificação da História

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Com um pequeno esforço de memória, sobretudo para os que têm já uma certa idade, facilmente se percebe que o número de horas dedicadas ao caso do avião de passageiros abatido no Leste da Ucrânica de há muito ultrapassou o tempo dedicado aos casos similares, mas operados pelos Estados Unidos sobre um avião iraniano, ou por Israel sobre um avião da Líbia. Nestes dois casos a notícia foi dada, terá tido uma ou duas réplicas noticiosas, e por aí se ficou.

No caso deste avião, ora abatido, mesmo com os jornalistas a reconhecerem não existirem dados suficientes para se perceber, com certeza, o que se passou, a verdade é que já todos falam como se o avião tenha sido abatido pelos rebeldes ucranianos. Num ápice, de pronto se saltaria para uma responsabilidade russa. É um caso que, embora trágico, nos faz lembrar a descoberta de contas em bancos ocidentais pertencentes a líderes de Estados já sem grande utilidade para os Estados Unidos ou para o Ocidente.

De um modo concomitante, surge a exigência de uma análise cabal e independente ao que se passou, embora se perceba facilmente que tal não pode ter lugar. Imagine o leitor que os Estados Unidos conseguiam provas de que haviam sido militares sob o comando do atual Governo de Kiev, que foi lá posto, como se viu, pelos europeus, apoiados pelos Estados Unidos. Será que alguém imagina que os Estados Unidos denunciariam tal situação, quando a Ucrânia de Poroshenko é hoje um satélite ocidental e anti-russo? Claro que não!

Como é evidente, todos se vêem agora obrigados a pedir uma tal comissão de inquérito independente – e Camarate?...–, embora sabendo que, para lá de não ser possível criá-la, os seus resultados seriam sempre recusados pela parte visada, com ou sem razão. Faz lembrar a proposta soviética da Coexistência Pacífica, que levou Kennedy a dizer, na Sala Oval, aos seus colegas do Governo: este é o tipo de proposta que não podemos recusar.

Simplesmente, eu ainda compreendo que a generalidade dos militares portugueses, ou nossos analistas destes temas, naturalmente ligados à grande estratégia dos Estados Unidos, não possam dizer a não ser coisas ilógicas, ou mostrar uma dúvida mas já tendenciosa: não sabem, mas tudo faz crer que terão sido os separatistas... Mas o que já me custa perceber é a indigência apreciativa dos nossos jornalistas. Porventura, uma indigência também fruto de algum medo, não vá por aí surgir o desemprego. Estes militares, analistas e jornalistas nem se lembram das decisões, já com décadas, sobre a Palestina, ou sobre as muitas centenas de milhares de mortos no Iraque – e sem armas de destruição maciça –, no Irão, no Afeganistão, nos Estados da (dita) primavera árabe, no Panamá, na Guatemala, etc.. Nem se recordam – muitos não sabem mesmo – que, não fora o prestígio e o patriotismo de Salazar no pós-guerra, e já hoje não teríamos os Açores. Por fim uma nota para o leitor: já reparou que dispõe hoje, com o regime constitucional atual, da mais ampla liberdade de informar, recebe toneladas de informação, e é constantemente enganado? Se pensar um pouco, perceberá que nunca virá a saber o que realmente teve lugar com este caso. Certo, isso sim, é que o avião sul-coreano que voava do Alaska para Seul e foi abatido pela força aérea da antiga União Soviética estava a participar em testes com a força aérea e a marinha americanas. Imagine o que teria lugar com um avião búlgaro que entrasse no espaço aéreo dos Estados Unidos sem autorização e naquele tempo... Ou seja: esteja atento e não se deixe levar por manobras de propaganda já com barbas compridas e ralinhas.

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN