Um abismo de postura política

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
A recente balbúrdia vivida no seio do PS, para mais criada depois de duas vitórias eleitorais sucessivas, veio mostrar o que, sendo já do conhecimento dos mais atentos, se traduz num verdadeiro abismo em matéria de postura política por parte do PS em face dos restantes partidos, muito em especial do PSD. Um verdadeiro desastre!

Já hoje não deverão existir dúvidas sobre o que está em jogo, ou seja, o PS, de facto, sempre apoiou a política da atual Maioria-Governo-Presidente, esperando que PSD e CDS/PP destruíssem o Estado Social, bem como a generalidade da estrutura do Estado, para o PS surgir depois, como que tristonho, explicando aos portugueses que será já tarde para devolver o que foi retirado, até agora, à generalidade dos portugueses.

Admito, porém, que muitos possam imaginar que não tenho razão. A verdade, porém, é a que se contém nas recentes entrevistas de Miranda Calha e de Francisco Assis, com este a apoiar o que disse o primeiro. Quando ontem li o texto de Francisco Assis no Público, disse para quem me trouxe o exemplar em causa: chama-me Joaquim...

Mas o que foi, então, que nos disse Assis no seu texto. Muita coisa, em geral redonda, como lhe é usual, mas que acabou por dividir em três temas. Simplesmente, tudo isso pode sintetizar-se nesta frase simples: a direita – PSD e CDS/PP – são os nossos parceiros políticos naturais. E são. Aliás, foram sempre. Diz mesmo que quem defende o contrário – já lá vão quatro décadas – é que tem um pensamento preconceituoso. E então, caríssimo leitor, relega-nos para as magníficas questões europeias, que são algo que só nos tem trazido os maiores benefícios, como todos vamos podendo ver...

Simplesmente, tudo isto se passa no meio do maior espetáculo jamais visto num partido político português. É um verdadeiro caso único, talvez só parecido com a cisão de Manuel Serra. Hoje, como qualquer um de nós facilmente percebe, o PS, a um ritmo diário, vai operando o seu pleníssimo funeral político, agora também acompanhado do completo claudicar público do que ainda restava – no patuá, claro – dos seus valores. O PS acabou por ser, afinal, o tal partido que estava a mais na cena política portuguesa, como há tantos anos previu um académico norte-americano. O que nos vai sendo dado ver é algo de execrável e de confrangedor em termos políticos.

Do outro lado, o contraponto. Se hoje se diz uma asneira, logo amanhã surge uma plêiade de companheiros a defender quem falhou na véspera. O mais interessante e recente exemplo é o materializado por Rui Rio, numa sua palestra em Lisboa. Nem uma crítica ao Governo de Pedro Passos Coelho, ou a Aníbal Cavaco Silva, antes o apontar de António Guterres – o mais provável candidato presidencial do PS...– como o maior responsável pelo estado a que Portugal e os portugueses chegaram. Significativo, portanto.

São duas posturas diametralmente opostas em termos políticos e de saber estar na vida política: a balbúrdia e a unidade, haja o que houver. Hoje, à beira do fim de Junho de 2014, nós podemos ver às claras o resultado destas duas posturas: o fim cabal da Revolução de 25 de Abril e o caminhar rápido para a destruição da Constituição de 1976.

Em todo o caso, ficaremos com a democracia, que, naturalmente, trar-nos-á mais do que o péssimo a que já se chegou. E tudo isto quando facilmente se percebe que a atual Maioria-Governo-Presidente não ganhará um voto a mais do que nos é indicado pelas sondagens e quando se sabe que os resultados eleitorais das europeias só derivaram do cabalíssimo desinteresse dos portugueses por um domínio que já não lhes interessa – nunca interessou – e sobre o qual PS, PSD e CDS/PP nunca os deixou exprimir. Espantoso!!

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