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Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Em primeiro lugar, a música celestial de Marcelo neste seu último programa dominical. Disse aqui Marcelo que o que está a passar-se no PS é, para a direita, música celestial. A grande verdade é que está cabalmente enganado.
O que se criou no PS, desde a sua segunda vitória eleitoral com Seguro ao seu leme, em nada beneficia a nossa atual direita, embora possa desacreditar o PS. Mas desacreditar ainda mais do que já está, consequência natural de décadas de alinhamento com a direita e com os interesses desta. O PS não está como se vê por razões de curto prazo, mas como o culminar natural de um percurso sem um objetivo ideológico preciso e firme.
Em segundo lugar, as palavras de Manuel Alegre a propósito do que se passou em Ermesinde, neste passado domingo: estes incidentes são intoleráveis e não podem voltar a repetir-se. Sem um infinitésimo de espanto para mim, aqui nos surgiu Alegre a pôr em causa a metodologia tantas vezes usada por grupos de portugueses – e com razão mais que reforçada – contra membros diversos da atual Maioria-Governo-Presidente. Nestes casos Alegre nunca disse ser intolerável...
Em terceiro lugar, a inacreditável afirmação de Alegre, a cuja luz, se o PS não souber resolver democraticamente os seus problemas internos corre o risco de perder o País. Ou seja, parece que Alegre não se terá ainda dado conta do descrédito a que chegou o PS, fruto de um percurso histórico e continuado de alianças e cedências aos grandes interesses da direita dos herdeiros da II República. Os aliados de sempre do PS foram o CDS ou o PSD e nunca os partidos de esquerda.
Em quarto lugar, sendo evidente que o Primeiro-Ministro não deve converter-se em constitucionalista, a verdade é que ele se está nas tintas para este ponto de vista de Marcelo. E porquê? Porque a sua estratégia – dos dois, claro está – passa por pôr um fim na Constituição de 1976 e nos seus fundamentos político-sociais de cariz humanista e cristão.
A prova de que esta crítica de Marcelo só serve os interesses do Primeiro-Ministro e da atual Maioria-Governo-Presidente está em que logo se apressou a aconselhar os juízes do Tribunal Constitucional a terem em conta a situação do País, neste tempo de (dita) pós-Tróyka, o que deverá desenrolar-se durante…trinta anos. Neste caso, se fosse eu a atribuir-lhe uma classificação, pois, reprovava-o.
Em quinto lugar, Jorge Miranda e Jorge Bacelar Gouveia – são colegas de Marcelo –, mas também o juiz-conselheiro Guilherme da Fonseca, vieram confessar que, embora o Tribunal Constitucional já tenha tomado decisões que desagradaram a quem estava a legislar, nunca se atingiu o atual estado de autêntica guerrilha. Miranda chegou mesmo a referir que estamos perante uma crispação que não se vê noutros países, salientando Guilherme da Fonseca que a partir do momento em que se ataca a qualidade dos juízes, já se ultrapassou todas as marcas.
E, em sexto lugar, a afirmação de Marcelo de que o PS se está a destruir por dentro. Só lhe falta em razão na medida em que o prestígio do PS, como consequência da sua postura política ao longo destes quarenta anos, está reduzida a muito pouco. Mas já lhe assiste uma razão plena quando aponta o erro fabuloso de Mário Soares em toda esta crise, para mais depois da mais recente vitória do PS nas europeias. Mário Soares que foi um apoiante líquido de Pedro Passos Coelho na sua corrida ao cargo de Primeiro-Ministro.
A uma primeira vista, Mário Soares não se deu conta da atitude neoliberal de Pedro Passos Coelho e de que, uma vez no poder, iria pôr um fim no Estado Social. E se Soares não viu, também nenhum dos seus incondicionais amigos conseguiu vislumbrar. O PS, portanto. Com estas minhas seis pinceladas breves, eu creio ter conseguido mostrar o lodaçal político que se atingiu em Portugal, tornando-se muito simples depreender que, por estas bandas, não voltará a existir futuro. Olhemos o que se tem visto pelo Brasil, e de pronto percebemos o que nos espera.