E nós a ver o mar

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Muitos de nós recordarão ainda as palavras do Presidente Cavaco Silva, salientando publicamente que a situação portuguesa não deveria ser confundida com a da Grécia. Foram palavras proferidas logo ao início da crise que, nascida nos Estados Unidos, acabou por atingir quase todos, connosco em particular, muito acirrada, posteriormente, pela desumana política – e sem saída – da atual Maioria-Governo-Presidente.

Um dos grandes temas de discussão na nossa vida social foi, quase desde o seu início, o da compra dos nossos submarinos. Por rápido se percebeu que poderia existir um qualquer problema do foro judiciário, tal como, no entretanto, se descobriu na Grécia. Diariamente, os nossos jornais foram dando notícias as mais diversas, mas os resultados não surgiam. Nunca surgiram. Mas surgiram na Grécia, e a níveis diversos.

A investigação ao caso grego, que decorreu na Alemanha, descobriu responsáveis, que foram punidos. E o mesmo se deu na Grécia, atingindo mesmo a classe política e gente cimeira da Marinha Grega. Descobriu-se tudo, portanto. Com os submarinos portugueses a situação, dentro do que nos é tradicional, não deu frutos capazes e finais.

Na Alemanha provou-se que havia existido corrupção sobre gente portuguesa. Os culpados dessa mesma corrupção foram condenados, embora com penas suaves. Mas já não se conseguiu descobrir, por cá e pela Alemanha, os nomes dos corrompidos portugueses. É mais um resultado da maneira singular de tratar o que se passa no nosso seio. Simplesmente, quem não se sente, não é filho de boa gente. Pois, as autoridades gregas – nós não eramos a Grécia...– acabaram de entregar no Tribunal Internacional de Justiça um documento de duzentas páginas, onde acusam os alemães de a terem pressionado a gastar enormes quantias de dinheiro em armamento, para posteriormente a criticarem por esbanjar uma imensidão de milhões de euros.

Além do mais, este cabaz de submarinos acabou por nunca navegar no mar, tornando-se numa das piores imagens da Grécia na crise financeira mundial, surgida nos Estados Unidos, e para que foi atirada. Indiscutivelmente, a Alemanha foi um contribuinte líquido para que a Grécia chegasse ao estado que se viu, usando mesmo do universal instrumento da corrupção, e sendo que a estrutura militar da OTAN também nunca questionou a cabalíssima falta de lógica daquela aquisição de submarinos. Já lá vão quinze anos!... A democracia na União Europeia, portanto.

Finalmente, as conclusões. Por um lado, no caso grego existiram diversos condenados na Alemanha e na Grécia, ao passo que no caso português houve-os na Alemanha mas nada por cá. Por outro lado, a Grécia, ainda hoje credora de centenas de milhões de euros por dívidas de guerra não pagas pela Alemanha, luta em tribunal por ser ressarcida da burla em que caiu, enquanto que os nossos políticos se desfazem em sorrisos, e com o contribuinte a pagar. Entretanto, aumentou o número de milionários e as correspondentes fortunas. É a democracia em Portugal, isomorfismo do velho Abril em Portugal da II República. Com os políticos que temos, vamos olhando o mar.

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