Custa a acreditar, mas é verdade!

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Pois é verdade, caro leitor: custar acreditar que o PS tenha chegado ao estado que pode hoje ver-se, mas a verdade está aí e bem à vista de todos.

Com um secretário-geral amplamente escolhido, depois de se mostrar duplamente vitorioso em dois atos eleitorais e com a evidente garantia de vir a ser o partido mais votado nas próximas eleições para deputados à Assembleia da República, o PS determinou-se a criar uma espécie de guerra civil. Em todo o caso, um tipo de guerra civil que já consegue fazer rir quem vai tomando conhecimento das peripécias que se sucedem sucessivamente sem cessar.

Simplesmente fantástico foi ver anteontem Mário Soares, em pleno Tivoli, referir-se ao problema do punho no ar, tal como ao que diz ser a completa secundarização de Seguro e da atual direção em relação ao tratamento por camarada! Como se alguém possa imaginar que as pessoas da bancada do PS, ou os militantes, se tratam por camarada!!

A consequência destas palavras, ao meu nível, resultou em ter eu passado a tratar todos os meus amigos ou conhecidos, que reconheço como militantes do PS, como camaradas. Carta que escrevo, e-mail que envio, concidadão que encontro, e lá vai o meu Caro Camarada... E logo junto, ao final do texto, ou da conversa, este alerta: não te esqueças de manter o punho no ar! Uma pândega...

Como quase sempre acontece em Portugal aí surgiram quatros históricos do PS – Santos, Sampaio, Alegre e Vera Jardim – pedindo ao Secretário-Geral que tenha em conta que é precisa rapidez, porque um PS forte é essencial ao futuro do País. Estranhamente, ninguém se posiciona sobre os contendores em causa, e muito menos com o que acha que o PS deve fazer se, com maioria relativa, tiver de governar...

Claro está que, num certo sentido, esta clarificação seria sempre inútil, porque desde o tempo constituinte o PS coligou-se sempre com o PSD ou com o CDS/PP. Os partidos de esquerda foram sempre um leque de pestes a evitar. E a minha opinião está nisto mesmo: os militantes do PS, dos mais básicos aos mais preponderantes, sabem que o PS nunca irá ter uma maioria absoluta, pelo que terá de unir-se com o PSD. De resto, os mais diversos dirigentes do PS zurzem sempre no CDS/PP e em Portas, evitando grandes ataques ao PSD...

Mas o mais espantoso no estado a que se chegou em Portugal está no facto de ter sido eu e Diogo Freitas do Amaral a defender a ideia de uma coligação com o PCP, ou mesmo também com o Bloco de Esquerda, sendo que Seguro sempre recusou, e de um modo liminar, as sucessivas propostas de consenso vindas dos lados mais diversos, muito em especial do Presidente Cavaco Silva!

Como se torna hoje evidente, o PS lá acabará por se coligar com o PSD, dado a recusa cabalíssima em mudar a destruição já praticada pela atual Maioria-Governo-Presidente. Lá ficarão pelo caminho o Estado Social – Pedro Passos Coelho era muito simpático e podia-se com ele dialogar...–, mas também a destruição da qualidade de vida de uma fantástica percentagem de portugueses e das suas famílias.

A verdade é que a tal sucessão de peripécias que se sucedem sucessivamente sem cessar está para durar. Isabel Moreira, por razões que nem são as mais relevantes, já coloca em causa António Guterres como candidato presidencial a ser apoiado pelo PS. Como os partidos de esquerda irão apresentar outros candidatos, lá voltará a ganhar o da direita. Tenta-se agora Rui Rio. E – quem sabe?...– talvez até apoiado por uma ampla coligação PS/PSD/CDS, que possa depois servir de lastro para a tal maioria do centrão. Portanto, tudo na mesma, mas imensamente renovado. E já sem Estado Social, porque este foi destruído pelo Pedro e pelo Paulo...

Por fim, o verdadeiramente mais espantoso deste estado completamente titanítico do PS: afinal, só agora se veio a descobrir que os estatutos do partido não são democráticos! É aqui que nos surge Lacão a comparar o pedido de eleições antecipadas, feito pelo PS, com o ora desejado por si e seus camaradas – não esquecer esta palavra. Mas a comparação está errada, porque a mesma tem de ser feita é com o Presidente da República: não pode pedir-se uma eleição presidencial antecipada.

Um dado é certo: se Seguro ceder e António Costa vier a suceder-lhe, de imediato o Presidente Cavaco Silva aceitará o que nunca aceitou com Seguro. É a minha aposta. Para já, com o leitor. Portanto – se assim entender, claro está –, guarde este meu texto e compare depois com a realidade. E já agora, o caso do académico do Direito, Maduro. Já reparou como em vinte e quatro horas este Governo transformou o preto em branco? E acredita que isto era possível no tempo dos alquimistas? Pois é, caro leitor, mas é possível na democracia portuguesa da III República. Se a tudo isto juntar o que agora nos veio dizer Amadeu Garcia dos Santos – é e sempre foi um português probo –, obtém um sistema possível de condições e muito bem determinado. Toma, neste caso, o nome de pândega...

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