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Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Não foi o povo, com a sua luta, que operou a mudança no regime constitucional que existia em 25 de Abril de 1974, mas sim um punhado vasto de oficiais superiores do Exército, ligeiramente apoiados por um ou dois da Marinha e da Força Aérea. E todos do Quadro Permanente, embora também apoiados por muitos outros oriundos do Quadro de Complemento.
Aconteceu, depois desse dia, que os militares revoltosos que acabaram por triunfar se colocaram ao lado das camadas populacionais mais desfavorecidas, porque se tivesse triunfado a ideia de Francisco Sá Carneiro, nós teríamos tido uma mudança na anterior Revolução na Continuidade, mas com o essencial ingrediente da existência de partidos políticos, embora inúteis. Passariam a ter, apenas, o papel de legitimadores aparentes do acesso e do exercício do poder.
A grande diferença entre Portugal e Espanha esteve aqui mesmo: entre nós deu-se uma revolução, ao passo que em Espanha teve lugar o que a nossa direita pretendia para aqui. E é por isso que se conseguiram obter as tais importantes conquistas sociais que nunca aqui teriam chegado se os militares triunfantes, depois de Abril, não fossem os que se conhecem.
O estado a que Portugal chegou, como pude já escrever, deve-se, muito acima de tudo o resto, ao PS, embora não por via de más governações. A causa suportou-se, desde o primeiro dia, numa cabalíssima falta de valores ideológicos, sempre cedendo às exigências dos herdeiros dos derrotados pela Revolução de 25 de Abril.
Por outro lado, e por razões que se prendem com uma componente forte da moda vanguardista democrática no seio do PS, este atirou-nos para a União Europeia, depois para o euro, há pouco para o Tratado Orçamental, e acabando por vir a apoiar, através da palavra do seu principal fundador, a subida de Pedro Passos Coelho ao poder. Era o tal jovem simpático, com quem se podia dialogar...
Simplesmente, tudo isto se foi praticando com a omnipresença do silêncio dos portugueses, invariavelmente desinteressados da vida pública. Assim se passaram quarenta anos a votar sempre nos mesmos, também sempre de mal a pior, e onde é até possível pôr em causa quem vence eleições sucessivas, recusando pactuar com a política da atual Maioria-Governo-Presidente.
Por fim, a histórica atitude política do PS, recusando sempre os partidos à sua esquerda e coligando-se sempre com os da direita, ao mesmo tempo que PCP e Bloco de Esquerda, realmente sem grande juízo político, se conseguiram juntar a esta para deixar ir para o poder os que – sempre se soube...– iriam destruir, de facto, a Constituição de 1976. Ilusões e descobertas tardias.