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| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Uma dessas impressões resultou de um dos mais recentes episódios da QUADRATURA O CÍRCULO, onde José Pacheco Pereira, perante as explicações finais de António Costa, e depois de já ter escutado os argumentos de António Lobo Xavier, lá referiu que toda a nossa adesão – falava no âmbito global, desde o início – à União Europeia foi feita à revelia da vontade e do consentimento dos portugueses. Mas aqueles seus dois colegas de programa, tal como o moderador, fizeram por não ligar a esta chamada de atenção.
Achei interessantes estas considerações de José Pacheco Pereira (já de há muito), até porque eu mesmo, há já uns anos, também o fiz, por acaso de parceria com ele e com o saudoso Miguel Portas, então, em face do que logo se percebeu ir ter lugar com a segunda versão do Tratado Constitucional Europeu. Pois, aí estão os resultados de uma vasta e permanente sequência de erros políticos, em geral praticados pelos eleitos, mas à revelia dos cidadãos e em matérias cruciais, ligadas à soberania e à democracia. Por ser esta a realidade, ainda consigo sorrir com os queixumes de mil e um por se não debaterem nesta campanha temas europeus. E isto quando se sabe perfeitamente que toda a ideia de União Europeia nada tem de coisa natural ou lógica. Tudo o que ora se passa vai ao arrepio da História, nem sequer garantindo a ausência de conflitos no teatro europeu. De resto, conflitos, embora não bélicos, é o que mais por aí se tem vindo a desenvolver.
À semelhança de João Ferreira do Amaral e de poucos mais, a verdade é que tem João Ferreira – é o cabeça de lista da CDU – a mais cabal razão, ao defender que o tema da saída do euro deve ser colocado sobre a mesa da discussão política, em ordem a preparar uma possível necessidade de abandono desta moeda.
Perante esta evidência lógica e muito forte, o que sobrevém é a crítica simples de quem, nada sabendo sobre o tema, tem acesso ao comentário fácil e denegridor, acabando por colocar esta discussão num patamar muito mais limitado do que o do fim da defesa do Ultramar Português antes da Revolução de 25 de Abril. Os portugueses, hoje completamente descrentes de tudo e de quase todos, percebem esta realidade muitíssimo bem, tal como a de que a atual dita democracia não lhes consente um infinitésimo de poder e de decisão sobre a própria soberania do País. A conclusão, portanto, é a lógica: não existe já nenhuma democracia, ou, na hipótese menos má, simplesmente não serve para quase nada.
Por tudo isto, é verdadeiramente espantoso escutar as palmas concedidas aos portugueses por não seguirem um caminho como o que está a ter lugar em França e noutros Estados da Europa Central. Simplesmente, esta aparente maturidade política – a generalidade dos portugueses, tal como os burros, não muda – o que traduz é da mesma natureza que levou à permanência, por quase cinco décadas, da II República: uma desconfiança profunda na democracia e nos políticos. Quatro décadas depois de se ter iniciado a III República, é este o panorama.
E como não teria de ser assim, se até Diogo Freitas do Amaral nos veio agora dizer que o programa de ajustamento impôs mais sacrifícios do que aqueles que teriam de ser necessários, e que agora é tempo de reparar os danos? Designando tudo isto como um pesadelo, Portugal irá ter uma convalescença longa e difícil, já que se conseguiu evitar a morte certa. Ou seja: o que aí vem, e por décadas, é mais pobreza, mais miséria, talvez algum emprego de subsistência e, com toda a certeza, mais – quão mais?! – emigração. Um tema sobre que sempre dei (e continuo a dar) toda a razão a Luís Mira Amaral: quem tiver valor e puder, saia de Portugal.
